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Por uma agenda ambiental

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A violência que a natureza tem adotado, com assustadora intensidade, para vingar as agressões que sofre, como nunca se viu desde a metade do século passado, tem multiplicado acidentes, ao mesmo tempo em que cumpre o avanço sinistro de se espalhar por quase todo o globo terrestre. Pois, o que até há pouco restringia-se a lugares distantes da Ásia e alguns pontos do Ocidente, passa a sacrificar vidas e patrimônios por toda parte. Dias passados, terras portuguesas entraram na rota da destruição provocada por fenômeno natural, coisa que a crônica lusa desconhecia em tempos contemporâneos.

Observe-se, com base em relatos cuidadosos das Nações Unidas, que esses acidentes tornam-se mais impiedosos exatamente nos países que ocupam a vanguarda de um processo industrial que descuidou do relacionamento respeitoso com o meio ambiente. Estados Unidos, Japão e China, entre os primeiros. E é sobre eles que paira a responsabilidade de uma terça parte de toda a poluição atmosférica, porque é onde a ânsia de produzir segue com escassos índices de preservação do ar e das águas; e por isso tornam-se potencialmente atraentes para os desastres. Poderia ser de outra forma?

O que teria a ver – indaga-se – a indústria com furacões, tempestades e temperaturas descontroladas e outras ocorrências que devastam? Pode ter pouco a ver, tratando-se de fato isolado; mas tais fenômenos têm um poder desastroso quando agem paralelos ou simultâneos. Há, de fato, uma gritante correlação. Provam-no estudos de ambientalistas, cada vez mais preocupados com o destino de um mundo razoavelmente habitável.

Mas se mais sofrem as grandes potências e os que nelas habitam, não escapam imunes bilhões de seres humanos que, nem sempre beneficiários diretos do que oferece o “progresso” predador, mesmo assim pagam o preço das águas e dos ares degradados. Às vezes ocorre de sofrerem mais, porque nem sempre a natureza obedece a princípios de justiça: castiga inocentes pelo mal que causam os culpados. As enchentes e os tremores de terra não fazem distinção nas consequências.

O mundo reclama um novo olhar sobre os malefícios de uma prosperidade industrial apática em relação aos elementos essenciais para a vida saudável, situação que se acentua na concorrência entre os poderosos. No correr para produzir mais e rapidamente, disputando mercados, a natureza é tratada como um estorvo. Os rios incomodam as usinas, o ar puro constrange as chaminés; a terra fértil tem de ceder espaço para testes atômicos que contaminam. E os que desejam preservar as riquezas vitais, tratados como sonhadores e diletantes fora de moda. Essa inversão tem de ser corrigida, e o tempo é curto para isso.

Não é mais possível permitir que as lideranças do mundo passem ao largo, contentando-se em contornar o problema, como se ocupassem de discutir o sexo dos anjos, enquanto a tragédia avança e as vidas se mostram condenadas; numa atitude oposta, é preciso apensar numa agenda global o modus vivendi entre crescimento e políticas ambientais. Ficam ao dispor das nações, quando for celebrada essa prioridade, os conhecimentos que a ciência e a tecnologia já colecionam, para permitir que os ideais convivam, sem se incompatibilizarem.

Nestas últimas semanas, quando se repetiram as imagens de desastres oriundos de terremotos, furacões, montanhas de gelo despencando, monções avassaladoras e temperaturas irregulares, é como se soasse a campainha e acendesse o vermelho no topo deste mundo, às vezes dispneico, às vezes inundado em águas que faltam nos lugares áridos. E sempre condenado a contrastes que aterrorizam.

Evitar a morte da natureza é prioridade na agenda universal.