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Os novos perfis no Congresso

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O Congresso Nacional, para repetir o que ditava a sabedoria de alguns ilustres que por ali passaram, ideal é que seja como um grande tambor, onde batem e repercutem os desejos da grande nação; e onde esses anseios também estejam permanentemente à disposição do talento e da criatividade. A nova legislatura, que estará se instalando no primeiro dia de fevereiro, não desmentiu tal semelhança, mas cuidou de confirmá-la sob alguns aspectos, destacadamente para transformá-lo em cenário de algumas advertências que se antecipam. É o caso da insinuação que veio das urnas para a reforma partidária, cuja principal tarefa pode estar na redução do número de legendas, que no próximo ano ficarão mais de trinta com a grave missão de elaborar leis. Basta olhar a composição das bancadas, onde pululam muitas de relativa ou nenhuma importância, mas poderosas nas negociações com o Executivo. Os mais de tinta partidos que chegam lá, guardadas as exceções, não têm programa nem se preocupam com um mínimo de embasamento ideológico. Uma reforma, como a que se pretende, haveria de cobrar um mínimo de honestidade com a sociedade que representam, depois de ela ter deixado clara uma intolerância à insipidez que hoje essas siglas carregam.

O crescimento dos minúsculos e o enterro de terceira classe a que foram condenados os grandes, como PSDB e MDB, são fatores que advogam mudanças substanciais. E, mesmo que não fosse suficiente essa falência, valeria lembrar o tsunami que fez naufragar algumas de suas figuras exponenciais, esses procônsules que, em décadas acumuladas, desembarcam no Planalto e assumem o poder como propriedade privada. Os poucos que não afogaram nas urnas, não terão como sobreviver por muito tempo. Candidatos a uma câmara-ardente.

É ainda daquelas duas conchas do Congresso que retumba outro dado a recomendar oportuna avaliação. Na moldura de sua composição há considerável presença de parlamentares numa faixa etária que vai dos 40 aos 60 anos, diferentemente do que se assistiu em tempos outros. Um dado que parece se associar plenamente à aspiração de mudanças substanciais na vida política brasileira, porque são os cidadãos naquela fase que mais se preocupam com reformas. Di-lo estudo recentemente revelado por uma instituição paulista que elabora tendências. Oxalá os parlamentares que já somaram esses anos, que não são muitos nem poucos, possam assumir a luta que o eleitorado acaba de lhes delegar.

São várias as caraterísticas da futura legislatura, algumas bem estimulantes, a cobrar outras atenções especiais. Não escapa dentre elas considerar o nível de escolaridade, baixo quando mostra os deputados que não avançaram além do ensino médio. Este será um Congresso eminentemente de doutores, muito mais numerosos, e, pelo menos em tese, mais preparados na elaboração de leis. Por outro lado, serão duas casas legislativas em que militará maior número de mulheres, de negros e pardos. Importante verificar esse detalhe, porque são peças fundamentais na formação da civilização brasileira. Não há como negá-lo.

É farto e generoso o elenco de desafios que os brasileiros jogaram nos ombros dos que pediram para representá-los, e estão atendidos. Não será por falta de tarefas que se frustrarão ao final dos mandatos, tendo como acréscimo o fato de que a sociedade cansou de esperar e de ouvir o que estava para ser feito, e não foi. E espera muito. Tão claro esse cansaço, que, chegada a hora do voto, ruíram velhos caciques improdutivos, criando-se novos endereços para as esperanças.