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'Na defensiva' com queimadas, Brasil torna-se entrave no acordo Mercosul-UE, diz professor

Reuters/Amanda Perobelli -
Incêndios atingem o Pantanal
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Macaque in the trees
Incêndios atingem o Pantanal (Foto: Reuters/Amanda Perobelli)

A pressão sobre o acordo Mercosul-UE devido à situação na Amazônia fez o vice-presidente Hamilton Mourão sugerir a diplomacia como solução. Sobre isso, a agência de notícias Sputnik Brasil ouviu um especialista da ESPM, que afirma que o Brasil precisa agir na área ambiental e usar interesses mútuos para salvar o acordo.

Com a crescente pressão dos europeus e o recente anúncio francês de oposição ao acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, o Brasil se viu em uma situação delicada no plano internacional. Os europeus têm sido fortes críticos do desmatamento e das queimadas recordes na Amazônia durante o governo do presidente Jair Bolsonaro, o que se tornou um problema nas negociações comerciais.

Até agora, o parlamento da Valônia, na Bélgica, a Holanda e também a Áustria, afirmaram que não darão aval ao acordo. Além disso, a França se posicionou de forma contrária ao atual formato do acordo e quer incluir sanções aos países do Mercosul em caso de falta de ação contra as queimadas e o desmatamento na região.

Na sexta-feira (18), o vice-presidente do Brasil, Hamilton Mourão, que também chefia o Conselho da Amazônia, afirmou durante uma transmissão ao vivo sobre Amazônia e Segurança, organizada pelo Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE), que a diplomacia brasileira deveria ser acionada para solucionar a tensão com os europeus e facilitar o acordo.

Para Alexandre Uehara, professor de Relações Internacionais, coordenador do Centro Brasileiro de Estudos e Negócios Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing, em São Paulo (ESPM-SP), antes da diplomacia o Brasil precisa agir de forma efetiva contra as queimadas e sair da defensiva no plano internacional. Uehara aponta que o meio ambiente, que era um "ativo" brasileiro diante do mundo, tornou-se um "passivo" no atual governo.

"Precisamos sim de ações mais efetivas de combate aos incêndios e às queimadas, pela preservação do nosso meio ambiente, porque as imagens são bastante impactantes. Nessa semana vimos várias imagens de animais que foram queimados, mortos no Pantanal. Então, não é só a imagem da mata – o que já seria muito prejudicial – mas a imagem também dos animais mortos e que ficaram feridos impactam muito negativamente a imagem do Brasil neste momento" avalia Uehara.

O professor da ESPM afirma que nesse contexto as negociações diplomáticas entre o Brasil e os europeus serão infrutíferas caso incluam o confronto de posições – de um lado, o governo brasileiro defendendo o direito à atual política ambiental e, de outro, os europeus tentando impor uma mudança nesse sentido.

"Se as negociações caminharem nesse sentido, nem o Brasil, nem o lado europeu vão se ver satisfeitos, porque cada um vai querer tomar suas decisões, cada um tem sua posição e perspectiva. Então, de fato, eu entendo que o avanço das negociações do Mercosul com a União Europeia para que o acordo entre em vigor, deve caminhar por uma negociação de interesses", afirma.

Para Uehara, essa estratégia deve definir interesses convergentes entre os lados para avançar com as negociações em meio à crise de imagem no atual governo brasileiro.

"O ponto negativo que vejo neste momento é que com as queimadas nós criamos um ponto de fragilidade em que o Brasil passou a ser visto como o responsável pelo entrave no avanço do acordo Mercosul-União Europeia, e virou o foco pelo telhado de vidro tanto para os países europeus [...] como também os nossos países vizinhos do Mercosul podem agora jogar sobre o Brasil a responsabilidade da falta de avanço no acordo Mercosul-União Europeia", ressalta.

Política ambiental prejudica imagem do Brasil no mundo

O especialista acredita que a situação do Brasil mudou "de maneira significativa" nos últimos dois anos no plano das relações internacionais, como mostra o caso das negociações do acordo entre os blocos continentais.

"[A situação] era de um país que poderia se posicionar mais afirmativamente, jogando a responsabilidade da falta de avanço [do acordo] para a União Europeia e eventualmente para os países vizinhos, e agora nós acabamos assumindo uma posição - ou caindo em uma posição - defensiva, porque nós é que temos que nos justificar, nós é que somos foco das críticas pela falta de avanço", aponta.

Uehara salienta que a evolução dos efeitos do aquecimento global ao redor do mundo afeta as populações e coloca as questões ambientais em evidência nas relações internacionais. Para ele, o Brasil precisa de "ações concretas" para conseguir melhorar sua imagem nesse cenário, que pressiona governos do mundo inteiro.

"De fato, há uma preocupação global em relação a isso. Então não é só uma questão da União Europeia em relação ao Mercosul, mas é uma preocupação global que vem se estendendo e se aprofundando cada vez mais", conclui.(com agência Sputnik Brasil)