Há poucos dias atrás, um senador do Partido Republicano disse que os Estados Unidos não era um “país de tweets” (postagens via “twitter”), mas um “país de leis”. Apesar de o senador Ben Bensey estar se referindo às atitudes do presidente Trump, ele lembrou-nos de uma frase que tem circulado no período pós-eleitoral daquele país, que pode servir para vários países do mundo: “Nós não somos um país de tweets. Somos um país de leis.”
Bensey estava se referindo às inúmeras mensagens do presidente Trump pelo “twitter”, contestando a vitória de Biden nas eleições presidenciais, pelas mais absurdas razões, quase todas elas rejeitadas pela Justiça. O senador reclamava da falta de atenção de Trump ao seu ofício de presidente, enquanto o país atravessa uma enorme crise na saúde pública, provocada pelo Covid-19 com mais de um quarto de milhão de mortos, situação que se traduz em uma crise sistêmica, como dizem os especialistas.
Com o alto poder de contaminação deste vírus, todas as dimensões da vida social são afetadas, da economia à cultura, passando pela segurança nacional, como que requerendo medidas governamentais imediatas e decisivas para deter o contágio – mesmo que impopulares. Enquanto isso, o presidente se afasta da cena pública de seu ofício e joga golfe, mantendo-se em silêncio, que ele quebra apenas com o uso do seu “twitter” para fazer as injustificáveis alegações de fraude nas eleições nas quais ele foi derrotado.
O fato dele se manter neste diapasão de absurdas mensagens sobre o funcionamento das regras eleitorais, com supostas trapaças, não se explica por seu temperamento, mas tem um objetivo claro de solapar a democracia dos EUA de uma maneira sórdida. Isto acabou levando o senador de seu próprio partido a defender a precedência das leis frente aos deletérios “tweets”.
Como já é sabido, a democracia depende de que a voz das urnas seja respeitada pelo candidato derrotado. E, mais que isso, numa democracia bipartidária como a dos Estados Unidos, a oposição também governa.
Para o partido – e para todos - é melhor ouvir a voz do senador.
Eduardo R. Gomes é professor de Ciência Política da UFF.