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Estranho paradoxo

Através dos noticiários e debates, a mídia dá a conhecer diferentes pontos de vista e oferece diversos esclarecimentos

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Hoje as condutas individuais são menos determinadas socialmente, cada um pode compor e recompor suas orientações e modos de vida através da oferta crescente de referências, mediante maior dessincronização das práticas, maior afastamento de limitações coletivas.

Através dos noticiários e debates, a mídia dá a conhecer diferentes pontos de vista e oferece diversos esclarecimentos. Questões relativas à vida política, aos problemas sociais, à cultura, à saúde e à educação tornam-se disponíveis para a maioria. De maneira que os indivíduos estão em condições de estabelecer comparações entre eles mesmos e os outros, o aqui e o distante, hoje e ontem.

Mesmo que de forma imperfeita e desigual, a mídia contribui para a individualização dos julgamentos, para a multiplicação dos valores de referência. Na escala de longa duração, os indivíduos têm mais possibilidades de questionar e de mudar suas próprias posições.

As participações institucionalizadas e os compromissos inflexíveis perderam terreno. Da mesma forma que a cultura midiática é uma cultura descontínua, sem memória, os grupos sociais são atualmente caracterizados pela fluidez, pela instabilidade e pelo efêmero.

Hoje a linguagem informativa é o que melhor acompanha uma suposta fixidez de tudo o que existe. Mas esta é o início do poder. Supostamente a informação sobre o mundo circundante permite organizá-lo de maneira que consiga tirar dele o maior proveito possível.

Com o que se produz estranho paradoxo: se, por um lado, a linguagem informativa fixa e assegura as coisas; por outro lado, a enorme massa de informação que se reproduz e multiplica dia após dia faz com que a informação seja efêmera, tudo nela caduca rapidamente.

Será que lá esquecemos que o raciocínio necessita de amadurecimento, e que dispor de tamanha informação não é o mesmo que raciocinar?

Tarcísio Padilha Junior é engenheiro, autor de "Por Inteiro" (Editora Multifoco, 2019)