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O coiso acordou

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Jair Bolsonaro se afastou totalmente da dignidade que a Presidência exige desde o mês passado, quando elogiou Alfredo Stroessner, ex-ditador paraguaio e pedófilo em série. Na terça-feira de Carnaval, o presidente desprezou outra vez a importância do cargo que ocupa e publicou um vídeo que mostra um homem enfiando o dedo no ânus e rebolando em cima de um ponto de táxi. Outro homem se aproxima e urina na cabeça do primeiro. Explicações vazias foram apresentadas pela assessoria do Palácio do Planalto sobre o vídeo, o fato é que o Presidente da República compartilhou pornografia nas redes sociais, assistida por milhões de pessoas no mundo inteiro. A imprensa internacional ficou chocada com a obscenidade, menos Bolsonaro.

O comportamento recente do "capitão" resgata o caráter deturpado que conhecíamos, mas que parecia ter assimilado parte das responsabilidades presidenciais com a posse. No passado, Bolsonaro deixou claro em entrevistas, reuniões e discursos no plenário da Câmara Federal que não acredita em solução democrática para o desenvolvimento do Brasil. Na opinião dele, os Poderes Legislativo e Judiciário deveriam ser submetidos à uma nova ditadura, uma guerra civil completa, onde ex-presidentes seriam assassinados e o número de mortos se aproximaria de trinta mil. "Através do voto você não vai mudar nada nesse país, nada, absolutamente nada!", bradou o ex-deputado no fim da década de 90. Anos mais tarde, ele perceberia que assumir o poder através do voto seria conveniente.

São assassinadas 63 mil pessoas por ano no Brasil, mas Bolsonaro não prega a paz. Ele quer que a polícia mate amparada pelo projeto de lei anticrime, que deixou de lado o combate à corrupção e trouxe consigo uma verdadeira política de extermínio. Decretou o fomento às escolas cívico-militares porque soldado não pensa no que é melhor para a sociedade, simplesmente obedece, inclusive a ordens arbitrárias. Prega uma arma nas mãos de cada eleitor de direita, vulgo cidadão de bem, a fim de contar com sua milícia de estimação. Milícia que se alimenta de publicações constantes na Internet, onde o presidente expõe a pobreza da sua personalidade, 24 horas por dia, e mancha a imagem do Brasil.

Não por acaso, terminados os dois primeiros meses de governo, integrantes das áreas econômica e militar planejam conter os impulsos do presidente. Afinal, ele idolatra torturadores, cultiva ideias fascistas e decidiu que pode publicar qualquer vulgaridade que lhe vier à cabeça. Aliás, minimizar os danos causados pelo coiso, apelido que Bolsonaro ganhou no período eleitoral, se tornou papel do cidadão, além da equipe de governo. O escândalo da última terça-feira, intensificado pelo deboche de Bolsonaro a respeito do fetiche de urinar sobre o parceiro sexual, estará na memória de cada chefe de Estado que encontrar o presidente para tratar de assuntos do interesse brasileiro pelos próximos anos.

Há uma dezena de militares no alto escalão do governo de um presidente que louva a ditadura militar. É obvio que não é coincidência. As consequências já são terríveis, as decisões sanguinárias e retrógradas do governo afastam o Brasil das suas raízes e do seu destino. O coiso, descontrolado, mal iniciou sua gestão e parece estar ansioso para trilhar os passos dos seus ídolos.

*Escritor gonçalense