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Witzel aprova chacina nos morros

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Quinze pessoas foram mortas durante operação policial no Morro do Fallet-Fogueteiro, no dia 8 de fevereiro. É o maior massacre protagonizado pelas forças de segurança do Rio de Janeiro em 12 anos. De acordo com o ouvidor-geral da Defensoria Pública, Pedro Strozenberg, a concentração de tiros pelas costas e na cabeça indica que as vítimas foram fuziladas, ou seja, executadas sem possibilidade de rendição. O chão do Rio foi lavado com sangue, a casa de uma família ficou destruída pelos tiros e demorou cinco dias para o governador dizer uma palavra sobre o assunto. Segundo Wilson Witzel, a ação foi legítima.

Não é a primeira chacina ocorrida no Estado em 2019. Dez pessoas foram assassinadas na noite entre os dias 19 e 20 de janeiro, nos bairros limítrofes de São Gonçalo e Itaboraí, cidades da região metropolitana. A vítima mais jovem tinha 18 anos. Nessa matança os assassinos não vestiam uniforme e usaram capuz para esconder o rosto. Mesma tática aplicada na chacina do Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, há um ano e três meses.

Witzel não falou nada nas redes sociais, onde mantém canais oficiais de comunicação, a respeito dos assassinatos na região metropolitana. Dizem que quem cala, consente. Seu silêncio sugere, no mínimo, insensibilidade. Entre as vítimas, pessoas que conversavam em uma lanchonete, onde até a dona do estabelecimento foi executada. Por outro lado, o governador teve motivação e tempo, no início desse mês, para acusar a imprensa de ser "claramente de esquerda".

Se foi assassinada pela polícia, tão mortal e corrupta, a opinião pública julga a vítima como culpada. E quanto mais longe da capital, menos discutidas são as mortes e mais ousadia têm os criminosos. Em nome de uma limpeza sanguinária para a construção de um Rio melhor através das armas, uma mentira tremenda, Witzel considera uma pilha de corpos como um ato a favor dos cidadãos fluminenses, ao invés de enxergar na perda de vidas humanas o sucessivo fracasso da gestão pública.

Tanto no Rio de Janeiro, quanto em São Gonçalo e Itaboraí, a vida não melhora quando a política mata. Os jovens continuam tendo a maconha, oferecida pelo traficante, como principal opção de lazer. O esgoto ainda passa na porta da casa do morador da favela e as crianças brincam sobre ele. Os dependentes químicos continuam vivendo nas ruas. O governador não deixa claro quantos ainda precisam morrer para que o Estado promova desenvolvimento social, o ensino público melhore, a economia se desenvolva e empregue os jovens sem experiência profissional.

Em poucas semanas, vinte e cinco mortos, violações dos direitos humanos mais básicos (com a desculpa de que os bandidos também ferem direitos), famílias destruídas e o cheiro desagradável de morte no ar. O assassinato se tornou rotina, rotina que ainda conta com tortura de suspeitos na sala vermelha da Primeira Divisão de Exército, na Vila Militar. Não há diferença entre o Rio de Janeiro e os palcos das guerras mais sujas da história e Witzel aprova.

* Escritor gonçalense