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Não podemos esquecer de Temer

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Michel Temer aproveita, nos últimos meses, um benefício que não merece, o silêncio da opinião pública. Indulgência que cresceu enquanto surgia um novo projeto político, caído enfim sobre a cabeça do país em outubro, mais brutal e menos sofisticado do que a erudição maquiavélica de Temer. Mas as dívidas com o Brasil do poeta humilde que não deveria ter sido presidente são graves demais para serem esquecidas.

Corria risco de não dar certo um governo que teve origem após um processo de impeachment infame, que serviu para homenagear a Deus, à família e a torturadores da ditadura civil-militar. Processo apoiado publicamente pelo próprio substituto, através da carta de rompimento com a ex-presidente Dilma Rousseff e o áudio em que falava como se já usasse a faixa presidencial. E realmente não funcionou. Embora apresente alguns indicadores econômicos positivos, apenas 5% dos brasileiros avaliam o governo Temer como ótimo ou bom, a pior avaliação desde o governo de José Sarney, de acordo com a pesquisa CNI/Ibope, divulgada no dia 13.

Apoiado por um ministério com apenas uma mulher, Grace Maria Mendonça, e nenhum negro, Temer assina, sem descanso, decretos e medidas provisórias que atacam o povo e o meio ambiente. Segundo o Conselho Indigenista Missionário, esse governo que está acabando é o “mais anti-indígena desde a ditadura militar”, que promovia a assimilação cultural com o intuito de esvaziar prerrogativas dos índios. Em 2017, o orçamento da Fundação Nacional do Índio (Funai) foi reduzido em 44% em relação ao ano anterior, 87 cargos do órgão foram extintos e o presidente da Funai, Antônio Costa, acabou demitido por negar a nomeação de indicados por parlamentares da bancada ruralista, íntima de Temer. O presidente deixará o Palácio do Planalto com um passivo de mais de 800 terras indígenas a serem demarcadas.

Ainda contra indígenas e prejudicando inclusive quilombolas, no início do segundo semestre, Temer interrompeu novos benefícios do Programa Bolsa-Permanência, destinado a universitários pobres, cujos antepassados foram massacrados pela escravidão. Jovens que lutam para estudar, pois suas aldeias ficam longe das universidades. Há relatos de que muitos suportam moradias degradantes e até passam fome.

Um dos principais itens da agenda governamental, a reforma trabalhista, completou um ano sem cumprir sua missão. O trabalhador brasileiro se encontra hoje em situação ainda mais frágil diante do patrão e menos de 15% dos empregos prometidos foram criados. A informalidade cresceu.

Temer quis entregar a Reserva Nacional de Cobre e Associados, na floresta amazônica, para a exploração de mineradoras, mas, sob pressão, recuou. Acabou com o Ministério da Cultura e também foi obrigado a voltar atrás. Pelo menos uma mancha jamais poderá ser corrigida: Temer é o primeiro presidente, no exercício do mandato, denunciado por corrupção pela Procuradoria-Geral da República.

Nos primeiros meses de governo, Temer deu uma declaração estranha em Alagoas, disse que gostaria de ser lembrado como o maior presidente nordestino do Brasil, embora tenha nascido em São Paulo. Na opinião dos brasileiros, ele termina o mandato como o pior presidente da história e ainda paulista.

* Escritor gonçalense

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