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De volta às Redes

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Publiquei recentemente um artigo de opinião no Jornal do Brasil - JB, logo após o 1o Turno da eleição passada, com o titulo “A eleição que se ganha nas redes”.

Pois, tanto. A direita não só ganhou a eleição nas redes, como seu maior investimento continua e continuará sendo no campo do simbólico. É nas redes e pelas redes que se fará o governo Bolsonaro. Nesse terreno será mantida sua liderança e o domínio de seus eleitores e muitos outros a conquistar. E novamente a esquerda ficará perplexa, continuando a não entender as sucessivas derrotas que lhe são inflingidas. A questão passa pelo domínio dos códigos, elementar na teoria da comunicação.

Está circulando nas redes um vídeo com Flávio Bolsonaro, onde ele anuncia o lançamento da nova TV Bolsonaro. Já era de se esperar. Uma plataforma de alta sofisticação e alcance, e grande poder de artilharia, pra usar os termos preferidos dos novos e brutos donatários do poder.

Lá, nessa TV virtual, serão criados, dia e noite, 24 hs no ar, programas, campanhas, peças publicitárias, informes, entrevistas, fake news, pregações, doutrinações e toda a sequência da retórica vitoriosa da direita, que governará com seus militares e banqueiros na terra, e com sua poderosa técnica e arte midática nas nuvens. E a plataforma permitirá a seus usuários baixar e fazer o compartilhamento de seus conteúdos pelo facebook, whatsapp e demais mídias virtuais que já estão perfiladas junto ao seu capitão e sua tropa.

Goebbels dá risadas de seu túmulo. Steve Bannon, seus parceiros e súditos seguem empoderados com seus feitiços.

É triste e inacreditavel que os segmentos da esquerda, com seus quadros formados nos anos 60, 70 e 80, permaneçam a assistir a tudo isso, seguindo atrás, sempre atrás, com métodos de mobilização social e política baseados em estratégias convencionais e dispersas.

Quando a esquerda e demais setores que prezam e defendem princípios democráticos no Brasil vão acordar para pensar, formular e apoiar um projeto de uma TV nas redes, que fale com toda a sociedade? Com base em arquitetura política, conhecimento técnico, domínio das linguagens e profissionalismo. A luta pela hegemonia se dá e se ganha hoje no campo da internet.

O jornalismo parcial, rasteiro e indecoroso, das tvs convencionais e da maioria dos principais jornais e revistas nas bancas, está submetido ao patrocínios das verbas públicas e privadas e a serviço de interesses dos poderosos. São hoje operadores do mero exercício de uma imprensa burocrática e subalterna, a dar repercussão, explicação e tradução para os incautos que não estão alinhados na rede onde quase todos são devorados no banquete sedutor que inocula o veneno da maldade, da intolerância e da perversão.

É preciso ter capacidade reativa e inteligência criativa para compreender, organizar recursos e enfrentar o projeto de extrema direita em curso, no terreno em que ele opera sua primazia, as redes, onde foram construídos os diques virtuais da inundação ideológica, sistemática, eficiente, persuasiva, a invadir, percorrer, entranhar, corroer e destruir o Brasil.

* Jornalista

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artigo | eleição | jb | rede