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O novo governo causa arrepios

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Desde o início da campanha eleitoral, se tornou um desafio manter a fé no combate às injustiças sociais e na preservação das riquezas culturais e ambientais do país. Assustava a popularidade de um candidato racista, sem amor pela democracia e disseminador do ódio. Jair Bolsonaro ganhou a eleição e anunciou através de Onyx Lorenzoni, futuro ministro da Casa Civil, que seu governo terá 22 ministérios, alguns tão deturpados quanto o presidente eleito.

Para o comando do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, onde o futuro presidente prometeu que o primeiro atendido será a vítima, não o algoz, foi escolhida Damares Alves. Na coletiva que anunciou seu nome, Damares enfatizou que índios também são seres humanos, algo que pessoas que dividem a espécie entre algozes e vítimas talvez não compreendem. Antes de servir ao povo brasileiro, Damares deverá refletir se suas convicções estão alinhadas com as necessidades populares. Na sua definição de sociedade ideal, a mulher passa a tarde deitada na rede enquanto o marido trabalha para “enchê-la” de joias.

Ernesto Araújo será ministro das Relações Exteriores. O futuro chanceler quer ajudar o Brasil e o mundo a se libertarem da globalização econômica guiada pelo que chama de marxismo cultural. E se abrir para a presença de Deus na política seria o caminho para conquistar tal objetivo. Brasil e Deus acima de qualquer coisa, nada poderia se encaixar melhor na guinada à extrema-direita.

Também perseguido por fantasmas marxistas nos seus devaneios, Ricardo Rodriguez será ministro da Educação. A principal proposta para a pasta é expurgar a ideologia de Paulo Freire das escolas, mal que só existe na cabeça do futuro governo e cuja obsessão pode prejudicar a Educação. Ricardo cultiva inimigos comuns ao bolsonarismo, o Partido dos Trabalhadores e o socialismo, discutidos por ele até em obras literárias.

Chefiando o Gabinete de Segurança Institucional teremos Augusto Heleno, defensor da morte de bandidos para resolver a questão da violência urbana. Não se trata de mera coincidência com as declarações de Bolsonaro, mas de uma interpretação equivocada da Segurança Pública compartilhada por outros nomes do novo governo. Marcos Pontes, que será ministro de Ciência e Tecnologia, em campanha eleitoral para Bolsonaro, publicou no Facebook, no fim de setembro, que os direitos humanos não se aplicam a ladrões e assassinos.

Já Oswaldo Ferreira, que cuidará da pasta de Infraestrutura, não vê problema em matar a natureza. Oswaldo declarou em entrevista que a atuação do Ministério Público e do Ibama contra o desmatamento ilegal se trata de encheção de saco.

Não há equilíbrio entre lados, somente abismo. Na vice-presidência veremos Hamilton Mourão. General da reserva nostálgico da crueldade da ditadura, Mourão vê beleza no embranquecimento da pele entre gerações e admite um autogolpe executado pelo presidente como solução para crises sociais.

Uma dupla tão distante da diversidade brasileira e um grupo de extremistas ocuparão os palácios mais altos da República. Mais quatro anos de escuridão para um povo tão explorado durante sua história causam arrepios de tristeza e repulsa.

* Escritor gonçalense