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Intervenção nos ônibus do Rio

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Diferentemente da intervenção federal, em que militares das Forças Armadas foram inseridos no planejamento e gestão da segurança pública do Estado do Rio de Janeiro, a Justiça determinou, no dia 19 de novembro, intervenção parcial nas linhas de ônibus municipais pela própria Prefeitura do Rio de Janeiro para reduzir o prazo da climatização da frota circulante nas ruas da capital fluminense.

Não desmerecendo os magistrados que estão envolvidos nesse processo, visto que a medida é válida, porém há outros pontos que mereciam ser levados em consideração por eles, pois tenho observado muita ênfase na refrigeração da frota. São eles: a regularização das linhas de ônibus desaparecidas por falência de empresas, a racionalização responsável do sistema de ônibus e a verificação das receitas e despesas dos consórcios, a fim de apurar uma tarifa justa para o serviço.

Dez empresas de ônibus faliram na cidade do Rio de Janeiro em três anos. Muitas das linhas não foram absorvidas por outras companhias participantes do consórcio afetado e milhares de pessoas estão tendo que pagar mais uma passagem ou perder mais tempo para fazer um deslocamento, sem contar com a sobrecarga que outros modais estão sentindo por causa desse problema. Tenho recebido reclamações de moradores da Pavuna, referentes ao impacto que isso tem causado no Metrô.

A falta de absorção das linhas de empresas que quebraram por outras dentro do mesmo consórcio é um absurdo, até porque ele foi idealizado para isso, de forma que a Secretaria Municipal de Transportes, atual órgão regulador do serviço, não interviesse nesse infortúnio e o impacto ao usuário final fosse o menor possível. Na verdade, essa organização das empresas não tem funcionado como deveria em diversos aspectos.

A gestão anterior tentou fazer uma racionalização das linhas de ônibus pela cidade, mas o que poderia trazer mais eficiência ao sistema trouxe mais transtornos aos usuários. Ainda temos muitos veículos nas ruas e a distribuição de ônibus pela cidade está desequilibrada. Existem áreas com muita oferta de linhas e outras com falta de regularidade nos trajetos. É necessário fazer uma racionalização que traga igualdade para todos os usuários.

Outro ponto polêmico no sistema de ônibus carioca é a tarifa. De 2013 para cá tivemos mais de cinco reajustes de tarifas e, até hoje, temos ônibus nas ruas com diversos problemas, principalmente nas regiões menos favorecidas, sem contar as diversas integrações tarifárias eliminadas ao longo desses anos. Se, para algumas companhias, o valor cobrado pelo serviço é insuficiente, para o passageiro, a tarifa não condiz com a qualidade recebida na maioria das vezes.

Os ônibus devem ser alimentadores dos modais de massa e sobre trilhos, mas como eles podem cumprir com essa característica fundamental e intrínseca (por causa da capilaridade alcançada pelos veículos), se não há uma política tarifária que incentive essa prática aos usuários? Vimos a rede desse tipo de transporte aumentar muito por causa dos eventos que a cidade recebeu nos últimos anos, porém os benefícios tarifários encolheram.

Dessa forma, o Ministério Público do Estado do Rio também poderia ter frisado esses pontos no requerimento apresentado ao Poder Judiciário, além da exigência de ar-condicionado em todos os ônibus municipais, de maneira a trazer não somente viagens mais agradáveis ao ponto de temperatura ambiente, mas entregar um sistema de ônibus que tenha confiabilidade e preço acessível a toda população fluminense.

Gilean Teixeira da Rocha*

* Administrador, busólogo e técnico em Telecomunicações