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Eleições legislativas nos EUA impõem derrota a Trump

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O resultado das eleições legislativas norte-americanas foi uma clara demonstração da insatisfação do eleitorado, que compareceu às urnas em níveis recordes, com o presidente Trump. Todavia, a polarização, reforçada nas últimas semanas de campanha por Trump, e um mapa que favorecia os republicanos no Senado impediram que a chamada “onda democrata” se concretizasse.

Democratas precisavam recuperar 23 cadeiras na Câmara dos Deputados para garantir uma maioria e o fizeram com alguma folga. Nas últimas semanas de campanha, Trump, contrariando recomendações do seu próprio partido, focou-se em assuntos polêmicos como imigração. Deixou de lado a oportunidade de falar mais sobre os cortes tributários – a principal vitória legislativa de seus dois primeiros anos na Presidência – e sobre a economia em franca ascensão. O objetivo (alcançado) de motivar a base republicana, que o havia elegido dois anos antes, foi insuficiente para prevenir a derrota na Câmara.

Foi nos subúrbios das grandes cidades – ricos e dominados por eleitores de renda e nível de escolaridade mais altos – onde os republicanos sofreram suas piores derrotas.

Não é incomum que o partido do presidente perca espaço nas eleições legislativas que ocorrem na metade de seu primeiro mandato. O que surpreende é que, em um cenário de desemprego muito baixo e a economia crescendo, os eleitores tenham decidido enviar essa mensagem de rejeição ao partido que controlava Presidência e Congresso.

Com a maioria na Câmara, democratas poderão não só rejeitar projetos, como o desmonte do Obamacare, como também fiscalizar efetivamente o presidente Trump e sua administração. Intimar funcionários do Poder Executivo para prestar contas e exigir a entrega de documentos, incluindo o imposto de renda de Trump, já estão nos planos de líderes do Partido Democrata.

No Senado, a história foi diferente. Estavam em jogo 35 das 100 cadeiras, e a grande maioria das disputas aconteceu em estados que haviam votado em Trump em 2016. Seria, em qualquer cenário, um mapa difícil para os democratas e apenas uma onda democrata os salvaria. Quando não se materializou, o partido de oposição sofreu derrotas importantes em estados como Flórida, Missouri, Indiana e Dakota do Norte.

Um dos principais destaques das eleições foram as mulheres. Especialmente no Partido Democrata, constituíram uma força inédita – tanto candidatas quanto eleitoras – que empurraram o partido para a vitória. Pela primeira vez, mais de 100 deputadas assumirão assentos na Câmara. Culminando esse desempenho histórico, a deputada Nancy Pelosi retornará à presidência da Casa.

Impressionante também a diversidade de candidatos e candidatas eleitos(as). Foram eleitas as duas primeiras muçulmanas para a Câmara dos Deputados, assim como o primeiro governador gay, no Colorado. Igualmente pioneiras foram as duas primeiras deputadas de origem indígena eleitas – uma delas, inclusive, lésbica.

O resultado das eleições aponta, assim, para um caminho de ainda maior polarização. Forças moderadoras em seus respectivos partidos – deputados republicanos e senadores democratas – foram derrotadas nas urnas. Consolida-se um sistema político em que os partidos se encontram cada vez mais distantes e o bipartidarismo improvável. Conforme se aproxima a disputa presidencial de 2020, o tensionamento entre Trump e os democratas deve crescer ainda mais.

* Pesquisador do Centro Justiça e Sociedade da FGV Direito Rio

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