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Esperança verde e amarela e prognóstico mundial cinzento

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No meu artigo anterior, manifestei a esperança no renascimento de dias melhores para o nosso sofrido e exaurido Brasil. Já estávamos quase caindo no fundo do poço e uma luz, ainda que tênue, fez sentir a sua presença. Mas daqui, dos Estados Unidos, onde me encontro para tratar de problemas de saúde, felizmente bem resolvidos, sinto-me ferozmente atingida pelo renascimento do ódio, da loucura, da barbárie. O termo “renascimento” não é apropriado e não foi bem empregado. Melhor seria substituí-lo por reaparecimento de um sentimento onipresente de rejeição face àquele que é diferente, àquele que professa sua religião e seus costumes e tradições, àquele que quer viver em paz. Na explicação do terrível assassinato de 11 judeus cometido por um fanático, a maior parte deles pessoas idosas e fiéis observantes da ortodoxia judaica, se justificaria pelo fato de que judeus da cidade de Pittsburgh, na Pensilvânia, uma das mais democráticas cidades americanas, teriam aplaudido e fomentado a entrada de refugiados em território americano. Tais refugiados estariam competindo e ocupando as oportunidades de trabalho dos autênticos americanos natos.

Imaginemos o cenário onde ocorreu o assassinato em massa: a sinagoga Tree of Life (Árvore da Vida) está repleta de fiéis, no Shabbat (Sábado, dia de recolhimento, rezas e reunião familiar) em sua grande maioria, pessoas idosas, muito observantes e religiosas.

Não mais do que de repente, do nada, surge um homem tresloucado e começa a atirar indistintamente, fazendo 11 vítimas fatais. Meu Deus, por que tanta crueldade, tanta barbárie cometida contra inocentes?

Contudo é reconfortante reconhecer que ainda existe um espírito de solidariedade humana, de compaixão, de empatia manifestados pelos familiares e amigos das vítimas assassinadas. Judeus, cristãos, árabes que vieram assistir aos serviços de Shabbat no sábado seguinte àquele quando aconteceu a tragédia. São essas as palavras textuais do rabino Robinson, da sinagoga The Tree of Life: “Cada um de vocês que optou por vir a esta sinagoga, esta noite, para estarmos juntos, para rezarmos juntos, são anjos da paz. Elevemos nossas vozes contra as trevas”. No Upper West Side, em Manhattan, Nova York, Gideon Schor, membro da Union Square, uma sinagoga ortodoxa moderna, declarou: “É impossível descrever este episódio tão terrível e triste”. E ainda acrescentou: “Nada me impedirá de frequentar minha sinagoga diariamente”.

Enquanto ocorriam essas manifestações de empatia e generosidade, na última quinta-feira, 6 de novembro, foram encontrados grafites antissemitas com os dizeres “Morram os ratos judeus” espalhados pelos muros de uma sinagoga do Brooklin. No dia seguinte, James Polite, um jovem de 26 anos de idade, foi preso como autor desses grafites. O rabino Mark Sameth, da Union Temple (Templo da União), informou que o vandalismo estava se espalhando. Outras palavras escritas no interior da sinagoga foram as seguintes: “We are here” (Nós estamos aqui), “Hitler”, “Judeus, é melhor vocês estarem preparados”. Nas proximidades da Rua 72, no Upper West Side (no lado mais para o alto do lado oeste da Rua 72), em Manhattan, foram pintadas duas suásticas, símbolo do nazismo.

Na terça-feira, diversos prédios do bairro Brooklin Heights foram marcados com suásticas com giz.

O prefeito de Nova York, Bill de Biasi, através do Twitter, condenou o vandalismo que está atualmente ocorrendo em várias partes dos Estados Unidos. São suas palavras textuais: “Esta é a espécie mais vil do ódio. Combateremos o antissemitismo com todas as fibras de nosso corpo. A polícia de Nova York encontrará os autores deste crime de ódio e iremos prendê-los”.

Todas essas informações foram colhidas e reproduzidas do jornal “The New York Times”.

A grande maioria das vítimas era de idosos. Vale reconhecer e admitir que os idosos são os pilares, os sustentáculos da vida segundo os trâmites do judaísmo. A vítima mais velha, Rose Mallinger, tinha 97 anos de idade.

Os judeus do leste europeu, que nos Estados Unidos se refugiaram, trouxeram com eles a lembrança dos pogroms (ataques, estupros, assassinatos de judeus permitidos e fomentados periodicamente pelos governantes das cidades russas e polonesas), de homens invadindo as sinagogas com armas prontas para matar, da lembrança do sangue derramado sobre o Livro Sagrado. No ano novo judaico Rosh Hashaná, os judeus leriam as velhas palavras, implorando compaixão a Deus.

Definitivamente, não é neste mundo que eu gostaria que os meus bisnetinhos crescessem. Que pena, o homem sempre atentando contra o seu semelhante.

Seria tão melhor, tão reconfortante e tão gratificante sentirmos e agirmos todos como irmãos que se amam e se compreendem!

Raquel Stivelman*

* Mestre em Educação pela UFRJ