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Amar com obras

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Estamos vivendo a semana da solidariedade em preparação parao II Dia Mundial dos Pobres,que aconteceráno domingo, 18 de novembro.Essa jornada foi instituída no ano passado pelo Papa Francisco para despertar a igreja para sua presença ainda maior entre os necessitados. O tema deste ano traz consigo um apelo para que sejamos a resposta que Deus quer dar a tantas pessoas que vivem na exclusão: “Este pobre clama e o Senhor o escuta”.

São inúmeras as iniciativas que a comunidade cristã empreende para dar um sinal de proximidade e alívio às muitas formas de pobreza que estão diante dos nossos olhos. Muitas vezes, a colaboração com outras realidades, que se movem impelidas não pela fé, mas pela solidariedade humana, consegue prestar uma ajuda que, sozinhos, não poderíamos realizar.

Nesta semana,a Arquidiocese do Rio de Janeiro realizou diversas atividadesque culminarão no domingo com a missa e almoço para população em situação de rua, na catedral.Mais doquereflexões, o Papanos pede ações concretas.O cardealOraniTempesta estará na catedral abençoando os alimentos e buscando ser esse sinal de que uma realidade mais digna é possível.Emtempos de tantas dificuldades,domOraniinsiste paraque saibamos fazeranossa parte.Para ele, amar com obras é serluz no meio de tanta escuridão.

Ninguém pode se dizer tão pobre que não possua algo para dar aos outros. Somos eleitos e abençoados por Deus, que deseja nos cumular dos seus dons, mais do que um pai e uma mãe o desejam fazer aos seus filhos. E Deus, quenão quer que nenhum filho sejadescartado, confia uma missão acada um.

A omissão é também o grande pecado contra os pobres. Nesse contexto,assume um nome preciso:indiferença. Quantas vezes falamos que não é problema nosso,queé culpa da sociedade?Quantas vezes passamos rapidamente por um necessitado na ruae nem olhamos para ele?Etodas as vezes quemudamos de canal, logo queum problema sério nos indispõe? Deusnão nos perguntará se sentimos justa indignação, mas se fizemos o bem.

Como podemos, então, concretamente, agradar a Deus? Quando se quer agradar a uma pessoa querida, por exemplo, dando-lhe umpresente,é preciso primeiro conhecer os seus gostos, para evitar que o presente seja mais do agrado de quem dá do que da pessoa que o recebe. Quando queremos oferecer algo ao Senhor, os seus gostos encontramos no Evangelho. Ele diz: “Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes”. Estes irmãos mais pequeninos, seus prediletos, são o faminto e o doente, o forasteiro e o recluso, o pobre e o abandonado, o doente sem ajuda e o necessitado descartado. Nos seus rostos, podemos imaginar impresso o rosto d’Ele.

Nos pobres se manifesta a presença de Jesus, que, sendo rico, se fez pobre.Por isso neles, na sua fragilidade, há uma forçasalvífica. E, se aos olhos do mundo têm pouco valor, são eles que nos abrem o caminho para o céu, são o nosso passaporte para o paraíso. Para nós, é umdever evangélicocuidar dos pobres, que são a nossaverdadeira riqueza; e fazê-lo não só dando pão, mas também repartindo com eles o pão da Palavra, do qual são os destinatários mais naturais. Amar o pobre significa lutar contra todas as pobrezas, espirituais e materiais.

Hoje podemosnos perguntar: para mim, o que conta na vida? Onde invisto?Na riqueza que passa, da qual o mundo nunca se sacia, ou na riqueza de Deus, que dá a vida eterna?

Diante de nós, está essa escolha: viver para ter na terra ou dar para ganhar o céu. Com efeito, para o céu, não vale o que setem, mas o que sedá.Então não busquemos o supérfluo para nós, mas o bem para os outros, e nada de precioso nos faltará. O Senhor, que tem compaixão das nossas pobrezas e nos reveste dos seus talentos, nos conceda a sabedoria de procurar o que conta e a coragem de amar, não com palavras, mas com obras.

Omar Raposo

*Pároco da Paróquia de São José da Lagoa e reitor do Cristo Redentor