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E a história continua: Muros x Pontes

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Infelizmente, é doloroso admitir, o nosso amado Brasil está doente, enfermo, neste momento.

Os populismos de extrema direita vicejam pelo mundo afora e essa extrema direita não é exatamente fascista, mas ela adota bandeiras de extremo reacionarismo em todos os planos. Há muita virulência no seu mantra anticomunista.

E, enquanto isso, a democracia no Brasil, segundo os especializados cientistas políticos vaticinam, corre risco. Mais uma vez, com desgosto, não se pode deixar de admitir que, sim, ela corre e está muito a perigo. E enquanto isso se dá, os brasileiros estão angustiados e estressados. A preocupação com o futuro do Brasil castiga as nossas mentes e nos estressa muito. Os caminhos que estarão no futuro do Brasil provocam ansiedade, muita preocupação e esses estados de espírito lesam e ameaçam a nossa saúde mental. A esperança está sendo vencida pelo desânimo, pela raiva pelo medo. Resultado final: angústia, muita angústia. Cristian Dunker, professor da IP-USP declara textualmente: “As pessoas se sentem inseguras e injustiçadas. Esse sentimento geral de injustiça explica por que evoluímos de uma cultura do medo e da exclusão para uma cultura do ódio. Isso tem tornado a vida das pessoas muito sofrida”. Ainda segundo Dunker, os paranoicos se tornam mais paranoicos, os melancólicos mais melancólicos, os obsessivos mais obsessivos. Daniel Kupermann, também professor da IP-USP, declarou que muitos dos seus pacientes têm reclamado bastante das brigas eleitorais em grupos de WhatsApp. São essas suas declarações textuais: “Esses grupos têm servido de mecanismos de projeção do ódio e agressividade dirigidos a familiares e amigos com inclinações políticas diferentes. Um tema que tem despertado a atenção de todos é o trauma. Vivemos um momento em que os sujeitos se sentem desalentados, sem ter a quem recorrer, em permanente estado de trauma, o que provoca tantas adições e depressões”. Ainda segundo Kupermann, “traumático é quando não temos com quem contar, quem reconheça a infâmia ou a injúria que sofremos”.

Segundo uma grande maioria de psicanalistas: “O universo político tem se apresentado como um universo de monólogos, o que impede que reconheçamos que o outro sofre de outras maneiras e por outros motivos. Quando isso acontece, a coisa fica pior, porque nesses monólogos cruzados, quando um grita de um lado e o outro grita do outro, todos se sentem não reconhecidos, não ouvidos e mais solitários”. É essa a explicação de Dunker.

A intolerância e o ódio vigentes estão assustando e amedrontando as pessoas. Os seus votos não são declarados por medo de desconhecerem que tipos de violência podem sofrer por manifestarem suas opiniões. Como consequência imediata, rompem-se os laços com familiares, amigos e companheiros de trabalho.

Cerruti, um psicanalista italiano, acusa “um aumento nas reclamações de trabalho, os pacientes se sentem cada vez mais reféns dos seus empregos e substituíveis”. A angústia política impera e domina a todos. A ascensão de espectro do autoritarismo ameaça e amedronta.

A verdade incontestável é que o Brasil está doente. Trata-se de um país enfermo que necessita desesperadamente e urgentemente de terapia.

Fernanda Torres, a atriz e escritora conhecida, lamenta em seu artigo recentemente publicado, o fim dos diálogos no Brasil de hoje. Prevalecem, segundo ela, os monólogos crescentemente virulentos. Se a ditadura militar prevalecer, os brasileiros viverão e verão sob a tutela da mão de ferro do Estado.

A desunião e a desordem imperarão. O homem cordial desapareceu por completo. Há muros em todos os lugares, em detrimento das antigas pontes. A violência ampliada entre aqueles que pensam de modo diferente é muito grave.

Um mestre capoeirista foi brutalmente assassinado porque teve a coragem e o arrojo de declarar abertamente seu voto, ameaças e truculências de candidatos contra adversários e até contra a minoria dos que já se foram, campanhas em favor da censura ou do banimento de livros e ameaças a grupos minoritários em espaços públicos exemplificam muito bem que há muita tensão no ambiente.

O que se apresenta como o mais importante é a extrema necessidade de paz, de respeito à divergência e de aceitação plena e irrestrita do resultado das urnas.

Abaixo a polarização política, a divisão da sociedade e a separação dos discordantes!

Respeitemos os nossos contrários para que, por nossa vez, também sejamos respeitados!

É difícil, muito difícil, mas não é impossível.

Que haja mais pontes e menos – se não o desaparecimento – de muros!

* Mestre em Educação pela UFRJ e ainda mantendo fiapos de esperança!