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Sociedade de risco e democracia no Brasil

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Não há um consenso entre as forças democráticas quanto às ameaças da “antipolítica”. Elas estão colocando em risco as instituições. Contudo, há um segmento no campo democrático que avalia estar consolidada a democracia na sociedade. Essa linha interpretativa parte de idealismo no qual a manutenção da democracia conseguirá enfrentar toda essa onda conservadora que emergiu das urnas. Não percebem que a crise da representatividade na política é uma variável da formação da sociedade de risco.

Há uma nova realidade na política brasileira em processo de gestação, uma vez que nossa modernização conservadora impediu a formação de amplas bases de setores modernos. Nos canais das redes sociais se aprofundaram o novo ativismo “antipolítico”, sob a direção das forças conservadoras. A “antipolítica” nasce pela negação de um polo político, seja o “Ele Não” ou o “PT Não”, reduzindo o embate da política para o campo da simplificação. A democracia não se fortalece. As angústias em relação ao elevado índice de desemprego não sensibiliza o momento político.

Em meio aos desafios da crise econômica, a falsa polarização alimentou esse risco para a democracia no Brasil. As forças políticas identificadas com o centro político foram esvaziadas e, aos poucos, estão sendo cooptadas pela nova ordem conservadora. O compromisso com os valores consagrados na Carta de 1988 é insuficiente diante das possibilidades reais relativas ao “arrocho das ideias”, ou seja, menos investimento em educação, cultura e conhecimento científico. O processo de desqualificação das instituições democráticas virá numa segunda onda conservadora contrária aos segmentos intelectuais e formadores de opinião.

Uma rápida observação sobre o perfil da nova representação eleita ao Congresso Nacional reafirma a tendência da elitização da política brasileira. Os novos parlamentares seriam vinculados às forças econômicas excessivamente ricas. A fragmentação das legendas partidárias tende à reestruturação do quadro político que vá ocupar o centro político, seguindo o eixo da pauta econômica liberal extremada. Entretanto, muitas “cabeças grisalhas” da ordem conservadora em formação ainda alimentam simpatias para a estadolatria. As contradições semelhantes ao governo do General Geisel podem voltar ao cenário político.

A sociedade de risco para democracia vai para além dos embates eleitorais, pois saídas econômicas recessivas impediriam a redução da desigualdade social. O tema da segurança pública é um elemento “hobbesiano” que abre espaço para uma conduta de militarização da questão social deixando a saúde pública, por exemplo, nas mãos dos interesses dos “barões dos planos de saúde”. A autonomia e a pluralidade pedagógica está sob ameaça na educação pública com as sinalizações para a flexibilização da carga horária escolar na nova Base Nacional Curricular. A contrarrevolução na educação ameaça a democracia no Brasil. Entretanto, há tempo ainda para que o campo democrático se prepare para os novos tempos, reagrupando o centro político num programa de organização da sociedade contra nossas raízes centralizadoras. Essa tarefa deve inspirar todos os segmentos defensores do crescimento econômico com justiça social.

* Mestre em Sociologia e professor de História