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Conveniência política e interesses da Cidade de São Paulo

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Os fatos têm demonstrado como a agenda de temas de interesse da população da cidade de São Paulo, para não dizer do estado e do país, sofre interferência das eleições e de para onde se move a mídia. Enquanto algo está no foco da imprensa, os políticos (alguns) aparecem para posar como interessados e atuantes na causa. Geralmente, num assunto para o qual já deveriam ter prestado atenção e agido. Na medida em que as câmaras se deslocam para outra hard news, fenece a disposição de apurar causas, encontrar responsáveis, mudar um futuro.

A tragédia do Largo do Paissandu, com o colapso do edifício que abrigava centenas de famílias desassistidas, é mais um novo escândalo esquecido. Sem imprensa para cobrar providências, sem manifestações nas ruas para chamar atenção, não interessa mexer. Essa é a mensagem explícita sinalizada pelos vereadores paulistanos. Nós, empresários, agimos. O Pensamento Nacional das Bases Empresariais (PNBE) requereu à Câmara Municipal da Cidade de São Paulo a criação de comissão parlamentar de inquérito para a devida apuração da questão habitacional em São Paulo. A resposta é burocrática: será considerada para a pauta de trabalho.

Essa consideração precisa ser traduzida para os cidadãos. Se não houver consenso nos bastidores dos gabinetes, não caminha. O tal consenso significa obtenção de ganhos políticos. Bem, sobre tal retorno, muitos políticos defenestrados no pleito de 7 de outubro sabem o que significa.

O fato é que há seis meses o PNBE requereu e nada. A motivação central para o pedido fundamenta-se nos fatos que permitiram a ocorrência da queda do edifício Wilton Paes de Almeida, na madrugada do dia 1º de maio de 2018, há cerca de 300 metros da Prefeitura de São Paulo e a 500 metros da sede do legislativo paulistano.

Diante deste gravíssimo descaso, não podemos deixar para lá e nos acostumar, sem exigir pronta e adequada reação. Não resolve dizer que a invasão do prédio foi ilegal, que um ou outro movimento cobrava aluguel etc. A solução deve aprofundar na raiz do problema e obter projetos para rapidamente dar aos habitantes da cidade oportunidade de obterem lugares adequados para morar.

Dados do IBGE, do Observatório de Remoções e da Rede Nossa São Paulo demonstram que um terço de toda a população da cidade de São Paulo vive sob risco em situação irregular, seja na rua ou em áreas indevidas. Um milhão de pessoas habitam regiões de mananciais e invasões continuam a acontecer nesses locais. Há ainda cortiços e construções em área de risco. São sintomas do déficit habitacional na cidade de São Paulo. Existem na capital aproximadamente 70 edifícios ocupados por diversos movimentos populares. Segundo o Plano Municipal de Habitação (2016), existe um déficit de 385 mil moradias. Enquanto faltam moradias, na cidade existem 1.385 imóveis ociosos, isto é, abandonados ou subutilizados. Além do déficit qualitativo, existem 1,2 milhão de pessoas morando em áreas irregulares, mesmo a cidade dispondo de 290 mil imóveis vazios ou subutilizados.

O questionamento é direcionado às autoridades em geral, mas principalmente ao Poder Executivo e aos vereadores municipais desta cidade. Quais foram as medidas adotas pela Câmara Municipal? Quais são as medidas que estão em andamento para evitar que essa situação continue? O silêncio tem sido a inconveniente resposta.

* Primeiro coordenador do Pensamento Nacional das Bases Empresariais

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