ASSINE
search button

Derrapadas de campanha

Compartilhar

Pinochet fez mal aos defensores do pensamento liberal na economia à medida que associou um regime politicamente ditatorial a iniciativas de liberalização de mercados. Mas se a essência do liberalismo econômico é a liberdade de empreender (foi o que escreveu o austríaco Friedrich Hayek nos “Caminhos da servidão”), na qual sobrevivem os mais competentes em um processo de “destruição construtiva”, não faz muito sentido que os “mercados” simpatizem com os políticos de direita radical que têm assumido o poder na Europa, por exemplo. Talvez seja uma rejeição a longos períodos de socialdemocracia e pró-socialismo no poder, dirão alguns especialistas.

Aparentemente é o que está acontecendo também no Brasil. Os mercados reagem favoravelmente quando as pesquisas eleitorais apontam uma provável vitória de Jair Messias Bolsonaro no dia 28 de outubro.

Olhando-se pelo lado estritamente econômico, o programa de governo que o PT registrou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para o candidato Fernando Haddad é um tremendo retrocesso. O programa põe em xeque o teto de gastos (sem o qual será impossível consertar as finanças públicas), por exemplo. E o próprio Haddad afirmou que no primeiro dia de governo revogará a reforma trabalhista, além de parar a entrega do pré-sal aos “americanos”.

Tolice em ambos os casos citados por Haddad. Nossa legislação trabalhista estava completamente caduca. Inspirada na Carta del Lavoro, dos tempos de Mussolini. Carta, aliás, que a própria Itália abandonou há tempos. Estamos no mundo digital, da automação, as características do trabalho mudaram. As relações entre capital e trabalho não são as mesmas analisadas por Karl Marx na primeira metade do século 19. Ah, mas a reforma tirou os direitos das trabalhadoras grávidas! Se na prática isso passou a ocorrer, conserte-se. Mas revogar a reforma trabalhista no primeiro dia de governo? Boulos tem razão: Haddad perderá apoio de suas bases se flertar com os mercados. Então tome retrocesso. No segundo caso, “os americanos”. Será que Haddad quer conquistar votos dos saudosos dos anos 1950 (má estratégia, pois a maioria nem está obrigada mais a votar)? As empresas americanas têm participação modesta no pré-sal. Se o receio fosse em relação aos anglo-holandeses, franceses, espanhóis, noruegueses, portugueses, chineses, vá lá. Mas o imperialismo americano não sai da cabeça da nossa esquerda.

Infelizmente, o PT insistiu no mesmo discurso. E, assim, aumentou a torcida por Bolsonaro entre os agentes econômicos. Quando andei pelo interior de São Paulo e do Panará antes mesmo que Bolsonaro despontasse nas pesquisas antes do primeiro turno, fiquei impressionado com tamanha adesão ao candidato. O agronegócio em peso o apoiando. Nem Lula, nem Ciro, nem Alckmin. Às vezes um pouco de Amoedo. Já é uma boa razão para se acreditar que a economia terá mais impulso de crescimento no ano que vem. A não ser que as pesquisas não estejam refletindo a realidade.

* Jornalista. Gravei semanas atrás um post no YouTube dizendo que o câmbio recuaria após as eleições. O dólar baixou mais rápido do que previ