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Uma pesquisa avançada - diário de guerra e paz, uma semana após o 1º turno

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Um instituto de pesquisas que fosse além dos métodos tradicionais e fizesse uma pesquisa avançada, ia dar Bolsonaro em terceiro. Primeiro, Haddad; segundo, esse candidato que o Bolsonaro finge que é; terceiro, Bolsonaro.

Com essa pesquisa, nosso amor próprio de brasileiros não ia baixar tanto, a ponto de muitos dizerem que milhões de fascistas saíram do armário e de alguns conformistas admitirem que é isso mesmo, é a vontade do povo, precisamos ter a humildade de aceitar, o povo quer assim.

A pesquisa avançada, com instrumentos de informação objetiva e melhor grau de aferição, ia revelar que muita gente que vota em Bolsonaro não está votando em Bolsonaro. São eleitores que votam em um Candidato X, idealizado, que eles chamam de Bolsonaro, mas que não é “ele”, o “ele” do “ele não”.

Exemplo: um pai de família, aposentado, quer votar no candidato que defende a moral e os bons costumes. O agente do instituto de pesquisas avançadas mostraria a ele Bolsonaro, em pleno Congresso Nacional, xingando seus adversários de viados, despejando palavrões aos berros, ou dizendo na TV que recebe auxílio-moradia pra comer gente etc. Então, o pai de família aposentado diria não, não é “ele”. E a pesquisa avançada colocaria no formulário: um voto para o Candidato X, cujo nome verdadeiro não sabemos.

Outro exemplo: um desempregado, decepcionado com político que só pensa nele próprio e na sua família, além de mamar no dinheiro do povo. O pesquisador disponibiliza os dados do dito Bolsonaro e o desempregado inimigo dos políticos é confrontado com os fatos: “ele” está na política há 28 anos, elegeu-se sete vezes, seus filhos foram crescendo e entrando na política por suas mãos, hoje são três, dois deputados e um senador; e “ele” é mais esperto ainda, coloca um em São Paulo e dois no Rio, para não dividir os votos... (como um coronel do Nordeste, que elege seus filhos e netos na Bahia, por exemplo, espalhando a descendência pela Paraíba, Sergipe, Alagoas, para um não tirar voto do outro). E o instituto de pesquisas avançadas, diante desse desempregado, enfim esclarecido e tirado das garras de Mr. Fake Trump News, que mandou seu Mr. Know Trump How para organizar a campanha do Bolsonaro, apura que esse também é um voto no Candidato X.

E tem também aquele eleitor para quem, acima de tudo, está o combate à corrupção e só votará no candidato honesto. Não é o Bolsonaro, claro, que recebeu uma doação de 200 mil na sua conta bancária, deu uma lavadinha rápida e embolsou; que em quatro anos viu o patrimônio de um dos seus filhos subir mais de 400%; que foi a maior parte da sua vida política do PP, um dos partidos com mais alto percentual de corruptos, onde foi colega de Paulo Maluf, por exemplo. A pesquisa avançada ia de novo cravar Candidato X. E assim por diante.

Mas a maior perda de votos de Bolsonaro para o Candidato X seria no quesito educação sexual infantil. Numa noite tristemente histórica, “ele” dedicou seu voto pelo impeachment a quem deu uma aula magna de estupro para crianças, o monstro Ustra, que levou duas crianças de 4 e 5 anos para assistirem a seus pais, nus, serem violentados. De um lado um livro de autora francesa, com o atestado de que nunca foi distribuído em nenhuma escola do Brasil; de outro, um documentário com a cena da aula prática do degenerado mestre de Bolsonaro. Na pesquisa, mais um voto para o Candidato X.

Enfim, essa imaginária pesquisa avançada mostraria que, na verdade, “ele” nem deveria chegar ao segundo turno, onde talvez chegasse o Candidato X. Por isso é injusto dizer que os brasileiros são tudo isso que os poucos eleitores de verdade do “ele” são. A vontade e o pensamento “deles” não elegem ninguém.

A desinformação que criou os muitos que votam enganados nos trouxe a essa situação crítica. E a lavagem cerebral continua, enquanto a imprensa esconde os textos de intelectuais como Manuel Castells, de pensadores, cientistas políticos, jornalistas internacionais que se horrorizam com o que acontece no Brasil.

Ainda há tempo.

* Diretor e autor teatral, ator e apresentador