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A forma das ideias políticas - Parte I

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Em Platão (428 a.C. – 348 a.C.), a Dialética nos levaria a um processo “dialógico”, que seria fazer passar logos (saber) entre interlocutores, para que transformem sua doxa (opinião) em episteme (conhecimento). A ideia, para Platão, não seria apenas o conhecimento verdadeiro sobre as coisas, ela seria a própria coisa: um ser em si mesmo, existindo, assim, independente de nós. A ideia estaria nas coisas, externa e alheia ao ser, que seria induzido pelo sensível, pelas impressões extrassensoriais. A Dialética platônica elevaria o espírito do mundo sensível ao mundo verdadeiro, embora intangível: o mundo das ideias.

Para Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C), Dialética seria uma dedução feita a partir de premissas prováveis, o que nos levaria a uma conclusão lógica e verdadeira; a ideia aristotélica estaria no ser e não teria existência separada de nós. Reais seriam os seres humanos, que Aristóteles chamava de “indivíduos concretos” de seres políticos. A ideia, assim, só existiria nos indivíduos, o que contraria o “ideal platônico”. Nesta condição, a substância (essência) seria a forma da ideia, dizia Sócrates.

Maiêutica, método filosófico de Sócrates (469 a.C – 399 a.C), consistia em um procedimento dialético em que, partindo das opiniões de seu interlocutor sobre alguma coisa ou assunto, procurava fazê-lo cair em contradição ou, ao menos, ficar sem resposta para um ou mais questionamentos, levando o interlocutor a admitir sua visão limitada sobre o mundo. O reconhecimento da própria ignorância (dúvida infinita) é o melhor caminho para que cheguemos o mais perto possível da verdade do mundo.

Em Hegel (1770-1831), Dialética seria um processo onde a ideia “sairia” de si mesma (tese) para ser confrontada com outra ideia (antítese), fazendo “nascer” no mundo uma terceira ideia (síntese). A tese seria o ser (substância) e o porvir o não-ser (sem substância, porque ainda não é). Destrinchando isso um pouco mais, Hegel considerava a ideia com um ser separado do ser (humano); seria, por suposto, um “ser indutivo”. Dialético seria, isto posto, um movimento racional do ser, que permitiria a superação às contradições que o confronta; não seria, pois, um método. A História, para Hegel, seria uma sucessão de momentos, cada um com sua própria totalidade em si e o momento presente negaria o anterior, construindo o momento seguinte, que também seria desmentido e assim por diante. Esse movimento dialético seria a manifestação de suas próprias insuficiências e contradições, ou seja, de sua parcialidade. A movimentação do pensamento serviria para apreender o todo, o absoluto e esse seria, para Hegel, o caráter metafísico da Dialética. Em termos sociais, o todo absoluto seria o poder estatal.

Podemos resumir a compreensão do conceito de Metafísica como “o que vai além da física”, ou seja, que transcende o mundo material. Pela tradição clássica, Metafísica era o estudo do ser, enquanto ser (ontologia). No pensamento moderno ocidental, essa concepção mudou um pouco. A partir do racionalismo de Immanuel Kant (1724-1804), a filosofia começou a estabelecer uma distinção entre a consciência e a razão científica e entre essas e outros domínios do saber em que a ciência tem pouco a responder, resvalando para razões especulativas não comprováveis empiricamente e essas se tornaram, para Kant, as questões metafísicas e, em outro sentido, morais.

Em Marx (1818-1883), a Dialética é semelhante à concepção de Hegel, só que o processo seria iniciado a partir das deduções do mundo material (Materialismo) e não das induções dos seres. A Dialética assumiu, na concepção marxista, o status de método analítico (Materialismo Dialético) da História, através da dedução das condições materiais de produção econômica, quando e onde a classe proprietária usurpa o lucro advindo da exploração dos não proprietários ou proletários, ou seja, do “sobretrabalho” (mais-valia). A ideia seria considerada concreta, mas só existiria no ser (humano), ela estaria no ser.

Como isso tudo pode ser aplicado nas práticas políticas diárias e na melhoria de nossa qualidade de vida, no Rio de Janeiro e no Brasil? Na segunda parte deste texto, a ser brevemente publicada, tentarei dar uma resposta possível (dentre outras).

* Geógrafo e pós-doutor em Geografia Humana