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Por uma campanha propositiva

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A onda conservadora que varreu o país nestas eleições não é um acontecimento específico da realidade brasileira. Nos últimos dois anos vários são os fatos internacionais que confirmam essa tendência: a ascensão do Trump; o neofascismo na Itália; os grupos neonazistas na Alemanha e em outros países europeus; o estreitamento pela direita na Grécia e na Turquia.

É evidente que o recrudescimento dessas correntes, guardadas as peculiaridades nacionais, ocorre, entre outros motivos, pelo esgotamento do discurso dos governos social-democratas em oferecer soluções concretas para a efetiva manutenção do bem-estar de suas populações. Crises cíclicas têm sido naturais ao longo da história contemporânea da humanidade e devem ser enfrentadas, por aqueles comprometidos com a democracia, com novas propostas políticas que atendam às grandes demandas das sociedades.

De pouca valia é a demonização dos adversários, sem que seja apresentada à população propostas claras, objetivas e compreensíveis de como resolver a questão da sobrevivência diária de cada cidadão. Apenas a defesa da democracia em oposição ao autoritarismo é insuficiente para ampliar os votos em uma disputa polarizada, como é o caso no nosso país.

Nos últimos 60 anos, a extrema direita manteve-se no poder em diversos momentos, com apoio de grandes segmentos das classes média e alta e também de amplos setores populares – golpe de 64; governo Médici (“milagre brasileiro”); Collor. Para desgosto das esquerdas, o povão, manipulado ou não pelas forças dominantes, virou-lhes as costas.

Não adianta, portanto, desqualificar os eleitores que nestas eleições votaram em candidatos ultraconservadores por acreditarem que eles representam a renovação. Motivos eles tiveram para essa escolha. A mídia, nos últimos anos, bombardeou a população com mensagens diuturnas desmoralizando os políticos, o parlamento, os governantes, valorizando exageradamente os aparatos jurídico-policiais. O desmonte das democracias se dá sempre pelo questionamento da legitimidade de seus operadores. Deu no que deu. Criou-se um ambiente moralista e autoritário, campo fértil para germinar as candidaturas que tiveram as maiores votações.

Combater a corrupção e punir seus agentes é dever do Estado. Sem espetacularização, em estrita obediência à lei, como deve ser em um verdadeiro Estado de Direito. Quando o enfrentamento da corrupção se transforma em bandeira política, ela é imediatamente empunhada pela direita. A história brasileira está repleta de exemplos de como os conservadores se apropriaram do combate à corrupção para campanhas moralistas que servem, na verdade, para encobrir as maiores das imoralidades – a desigualdade social e a exploração do trabalho dos mais humildes.

Estamos diante de um 2º turno duro e dificílimo para as forças democráticas. É natural que se busque ampliar apoios junto às organizações partidárias de centro e centro-esquerda. O discurso de democracia versus barbárie neste momento só funcionará para aglutinar as forças já comprometidas com uma sociedade mais justa e solidária, mas não para garantir uma vitória eleitoral.

A hora é de buscar o voto onde ele está, nos grotões do país, nas periferias das grandes cidades, principalmente do Sudeste brasileiro. Aí a conversa é outra, é chapa quente. As forças democráticas precisam apresentar propostas de aplicação imediata para o enfrentamento da violência urbana e de inovadoras políticas de saúde, educação e geração de emprego, trabalho e renda.

Não adianta apresentar somente propostas de médio e longo prazos, pois o sofrimento da população exige soluções urgentes, necessitando, assim, de ações práticas a serem realizadas já no primeiro dia de governo. Só assim o coração do povão será atingido pela esperança que desmoralizará a hipocrisia da direita travestida de defensora do bem-estar social. Quem não te conhece que te compre, diz o dito popular.

Nada a temer, qualquer que seja o resultado desta eleição, pois continuaremos a construir com perseverança um país em que a justiça social e a igualdade entre as pessoas prevaleçam.

* Arquiteto e urbanista