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A travessia do deserto nas eleições legislativas

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Nos próximos dias o eleitor brasileiro deverá escolher seus candidatos para cargos majoritários (presidente, governador, senadores) e cargos proporcionais (deputado federal e estadual) num quadro de profunda crise de representatividade política acompanhada de uma economia estagnada. As mudanças na legislação eleitoral reduziram o tempo de campanha eleitoral e de inserções na televisão com o discurso de redução dos gastos na propaganda eleitoral. Contudo, muitos analistas já indicam que os atuais parlamentares fizeram a “reforma política” para tudo conservar. Há uma ameaça conservadora com a eleição de parlamentares favorecidos pela troca de favores.
Não superamos nossas raízes em que a garantia da “cordialidade” favorece os grupos políticos sem nitidez e praticantes do fisiologismo. Além disso, ainda vivemos num país de vocação centralizadora. Portanto, aos poucos, o brasileiro vai se informando sobre as eleições e se concentrando nos embates eleitorais da Presidência e da sucessão aos governos estaduais. A distância entre as organizações partidárias e a sociedade aumenta num contexto em que a “fulanização” da política é sempre comum nas conversas entre amigos e familiares.
A campanha eleitoral segue seu roteiro em que as eleições legislativas ganham poucos espaços nos meios de comunicação. A variedade de candidaturas dificulta ao eleitor assimilar e comparar uma diversidade de propostas e figuras quase que folclóricas que surgem nessa travessia política. As eleições legislativas estão sem condição de adquirir uma visibilidade e muitas candidaturas de opinião estão definhando nesse deserto. Falta um vetor político que conduza muitas dessas candidaturas praticamente “sufocadas” entre as “máquinas eleitorais” do clientelismo. As camadas populares lutam pela sobrevivência diante de milhões de desempregados à medida que a cooptação eleitoral está cada vez mais fácil.
O “voto moralista” ganha muita força na classe média tradicional nesse tempo de crise. Ganha condições de unificar como oposição as mudanças de costumes. As manifestações políticas dos segmentos mais modernizadores no campo dos costumes estão fragmentadas em inúmeras candidaturas, porém reforçam uma “frente conservadora” mobilizadora de um segmento eleitoral considerável. O “voto moralista” das camadas médias acaba dialogando com um conservadorismo popular e forma a base para a possível ampliação da bancada BBB (Boi – Bala – Bíblia) no Congresso Nacional.
A campanha eleitoral está se revelando um grande deserto político com poucas ideias democráticas a ter visibilidade. A capacidade dos militantes de ir para as ruas está limitada pelo vazio de projetos com viabilidade de vitória eleitoral. Sugerimos, ainda, que muitos militantes jovens estão “contaminados” pelo ativismo digital e se esquecem de que a visibilidade das ruas cria o clima de expectativa de vitória para ajudar a consolidar o voto de opinião. Assim, a “terra prometida” da renovação política ainda não se avistou nessa travessia.

* Mestre em Sociologia e professor de História