A advogada Alessandra Jirardi diz que a Polícia Militar matou, sem chance de defesa, seu cliente, Luciano Santos Barros, suspeito de participação no assalto ao aeroporto Internacional de Viracopos, na manhã desta quinta-feira (17), em Campinas.
Depois do roubo, Barros fugiu com cerca de 20 outros suspeitos e invadiu uma casa no Residencial Campina Verde, onde fez uma mulher de 37 anos e sua filha, uma bebê de dez meses, reféns por mais de uma hora.
"Ele [Barros] foi executado, eu estava no telefone com ele, ele dizendo que queria se entregar e que estava com medo de morrer", disse Jirardi. A advogada disse que alternava a ligação entre ele e o coronel Luiz Augusto Pacheco Âmbar, comandante do Gate, negociando a rendição. "Eu disse 'calma, estou chegando, assim que eu chegar ele vai se entregar'. O sequestrador me disse que se eu não fosse iam matá-lo", afirmou.
A polícia, no entanto, diz que o suspeito apontou a arma para a cabeça da refém, que segurava a criança no colo; que ele apresentou comportamento agressivo e que indicou que atiraria na mulher. Especialista ouvido pela reportagem também defende a ação da PM, com base em imagens da ação e declarações dos oficiais envolvidos.
A advogada afirmou que foi barrada em uma barreira da PM antes de chegar na casa onde seu cliente mantinha a mulher refém, e que quando chegou em frente à casa, ele já tinha sido morto.
"O sequestrador parou de me ligar. Não esperaram o advogado chegar para ele se entregar. Tiraram a vida de uma pessoa. É um absurdo o que fizeram. Ele ia se entregar, essa é minha revolta. A Polícia de São Paulo matou mais uma pessoa", disse Jirardi.
Barros, diz ela, era oriundo de São Paulo; ela afirma que foi contratada pela família dele. Segundo Jirardi, o homem seria um empresário na capital, embora não tenha explicado qual era seu ramo de atividade.
O Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) negociava a rendição de Barros. Ele acabou morto por volta das 13h35 por um atirador de elite da PM. Segundo o coronel Âmbar, as negociações vinham bem até que o suspeito apontou a arma para a cabeça da refém, que estava com o bebê no colo, e que ficou agressivo. "O sniper que estava do outro lado da rua atirou e a equipe tática fez a invasão, efetuando mais disparos contra o suspeito para garantir a segurança da refém".
Em nota, a Polícia Militar afirmou que "o criminoso passou a apresentar um pico de agressividade e apontou a arma para a cabeça da mulher, que permanecia refém com a criança no colo, indicando que atiraria na vítima". Nesse momento, ainda segundo a PM, "foi realizada a intervenção do sniper, o 'atirador de elite' da Polícia Militar, o qual atingiu o agressor, neutralizando-o imediatamente, e que não resistiu ao ferimento".
A mulher de 37 anos ficou ferida na região dos glúteos e passou por cirurgia no Hospital PUC-Campinas. Segundo a PM, ela foi atingida por "estilhaços" da bala. O hospital disse que a família não autorizou a divulgação do estado de saúde da vítima.
Pelas imagens que circularam em redes sociais e com base nas declarações dos oficiais sobre a ação, o consultor em segurança Adalberto Santos defendeu a intervenção da polícia. "Se o suspeito colocou o dedo no gatilho e apontou a arma para a cabeça da refém, há protocolos internacionais que determinam que o agente de segurança execute o tiro de comprometimento".
Segundo ele, há um nível de tolerância em negociações com situações de reféns, e que ele é rompido quando o gestor da crise entende que a situação saiu de controle ou quando há algum gesto do suspeito que coloque a vida do refém em risco. "Os agentes não podem pressupor que o suspeito levantou a arma como simples ameaça. Na minha visão a ação da PM foi correta", disse.
Em agosto deste ano, outra atuação de sniper resultou na morte do sequestrador de um ônibus na ponte Rio-Niterói. A ação foi comemorada, na época, pelo governador Wilson Witzel (PSL).(Luis Freitas/FolhaPress SNG)