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Inexperiência da base e estratégia da oposição atrasam reforma da Previdência

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"A partir de agora, bandido vai andar desarmado, para o seu pavor. E a polícia vai andar armada e o cidadão de bem também armado. Vem um novo Brasil aí, o PSL vota sim!", gritou o deputado Bibo Nunes (RS) durante sessão da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça).

A fala, que começou como uma provocação à deputada Maria do Rosário (PT-RS), terminou em gritos e uma crise de riso no plenário. Isso porque, logo depois do assertivo voto sim, Nunes voltou atrás: "Não, não, não, não!".

Parlamentares favoráveis à reforma avisaram que ele havia orientado o partido do presidente a tirar da pauta da comissão o projeto da reforma da Previdência enviado à Câmara por Jair Bolsonaro.

A combinação de inexperiência da base governista com a estratégia da oposição de colocar em campo sua tropa de choque composta por deputados (e principalmente deputadas) com mais tempo de casa é apontada como uma das causas do vagaroso andamento da reforma. E pode criar dificuldades para o cumprimento do prazo do governo, que deseja que o texto seja votado já nesta terça-feira (16).

Apesar de estar em menor número, a oposição tem atuado em bloco e montou um arsenal para atrapalhar os planos do Planalto. Deputados que não integram a CCJ, como Gleisi Hoffmann (PT-PR) e Ivan Valente (PSOL-SP), participam das sessões e trabalham para atrasar o andamento do projeto.

"A maioria de nós já estava ali, nós já enfrentamos ali a reforma da Previdência do Michel Temer, o impeachment", diz Maria do Rosário.

A parlamentar pode ser encontrada sempre com as colegas Erika Kokay (PT-DF) e Hoffmann na primeira bancada da comissão. Ao lado de deputados de PSOL, PDT e PSB, o trio forma a linha de frente da tática de obstrução total.

Mesmo antes de a sessão começar, eles já começam a apresentar questões de ordem -requerimentos técnicos para serem respondidos pelo presidente do colegiado, Felipe Francischini (PSL-SP).

Além disso, todos, inclusive suplentes como Zeca Dirceu (PT-PR), protagonista de bate-boca com o ministro Paulo Guedes (Economia) no início deste mês, se inscrevem para usar todo o tempo disponível de discurso.

No gogó, a oposição conseguiu retardar em quase cinco horas a leitura do relatório do deputado Marcelo Freitas (PSL-MG), na terça (9).

"Nós não nos isentamos de conhecer o regimento, sem conhecer é muito difícil atuar na CCJ", diz a deputada de primeiro mandato Talíria Petrone (PSOL-RJ).

Caso o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), não estivesse alinhado com os interesses do governo nesse caso, a sessão teria sido interrompida às 19h, horário em que estava marcada a ordem do dia no plenário. Maia, porém, cancelou as deliberações no dia para permitir a leitura.

Uma das críticas feitas por deputados favoráveis à reforma sobre a base é de que os parlamentares do PSL se deixam cair em provocação.

"Quase matam a reforma da previdência por causa de uma gracinha. Difícil", escreveu Kim Kataguiri (DEM-SP) em suas redes sociais depois do ato falho de Bibo Nunes. "Não é exagero. Ele não estava votando sozinho, ele estava votando pelo partido inteiro. Não sou nada, só um um político que não faz mais que a obrigação. Cobro que os outros façam o mesmo."

Chamou a atenção de deputados tucanos, por exemplo, que o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) tenha pressionado Francischini para aumentar o tempo de fala da líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP), durante embate com Rosário sobre filmagens em plenário. Ela pedia para ter o tempo reposto -o que atrasa os trabalhos- e o petista incentivava.

Apesar dos trancos, a base do governo tem se mobilizado para defender a reforma. Ao contrário do que ocorreu na audiência com Guedes, em que a oposição dominou a lista de inscrições, na leitura do relatório os governistas chegaram cedo para intercalar os discursos favoráveis.

Além disso, os aliados do governo tentam impor limites à tática de obstrução. Em um acordo montado por Francischini, o colegiado reduziu os tempos de fala pela metade e limitou a 20 o número de não-membros que podem discursar.

Apesar disso, o presidente do colegiado prevê pelo menos 20 horas de debates, entre segunda e terça. O número pode ser ainda mais alto caso o centrão –aliado inesperado e bem-vindo, dizem líderes da oposição– consiga inverter a pauta e colocar na frente a análise da PEC do Orçamento impositivo.

Além disso, o PSOL diz que não foi consultado para a formação do acordo de tempos. "Não temos compromisso nenhum com isso", diz Ivan Valente, líder da legenda.

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