SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O partido Novo cogita lançar como candidato a prefeito de São Paulo Filipe Sabará, ex-secretário municipal de Assistência Social e hoje presidente do Fundo Social de SP, órgão estadual de filantropia.
À reportagem Sabará desconversa sobre a intenção de disputar a prefeitura, mas confirmou que "existem conversas" devido ao posto que ocupa.
"Não está como plano. Mas eu sou a pessoa do partido Novo que tem o cargo mais elevado do estado de São Paulo hoje, de mais relevância. Por isso existem conversas."
A especulação ultrapassa as articulações feitas pelo próprio Sabará, já que existem apoiadores de sua candidatura dentro do partido e também entre a nata do empresariado paulista.
Para disputar cargos eletivos, o partido exige um processo seletivo interno -que começa na segunda-feira (15) e se arrasta até o segundo semestre- e Sabará já teria topado disputá-lo, indica Fernando Meira, presidente do diretório paulista do Novo.
"É uma pessoa com garra e competência, e a gente fica muito feliz que ele esteja disposto a participar do processo seletivo", afirma Meira. "Agora, se ele vai passar vai depender do próprio processo."
Considerado braço direito do governador João Doria (PSDB), Sabará foi secretário municipal de Assistência Social de abril de 2017 a novembro de 2018.
Embora diga que não planeja ser prefeito, ele afirma que "quem passou por lá [secretaria de Assistência Social], e fez um bom trabalho, entende bastante da cidade".
Seu sucessor na prefeitura e braço direito, José Castro, pediu demissão no último mês reclamando de cortes de recursos para a área social na gestão Bruno Covas (PSDB).
Sabará diz que prefere não comentar "a questão do Bruno Covas", mas critica a descontinuação do Trabalho Novo, sua principal bandeira, que intermediou com empresas a contratação de moradores de rua, e que acabou em fevereiro, sem cumprir a meta de oferecer 20 mil empregos.
O entorno do atual prefeito vê o movimento com aborrecimento. A possibilidade de que Sabará saia como concorrente de Covas é vista como "traição", já que ele foi secretário municipal e atualmente trabalha com Doria, que tem Covas como seu candidato. Além disso, perguntam em tom crítico: Sabará vai usar o cargo na gestão estadual tucana para tentar derrotar Covas, também tucano, em esfera municipal?
Eduardo Tuma, presidente da Câmara Municipal e aliado de Covas, desconversa ao tratar da possível candidatura de Sabará, destacando apenas que "tanto o PSDB municipal como o estadual, que tem Doria como principal líder, apoiam incondicionalmente Covas para a reeleição."
DIFERENTES
Hoje, Sabará ocupa a presidência do Fundo Social, que oferece cursos profissionalizantes a pessoas carentes. Todas as presidentes antes dele eram primeiras-damas. Bia Doria atualmente é presidente do conselho do Fundo.
Ele critica o que chama de "assistencialismo" do órgão, comandado até há pouco por mulheres de aliados tucanos. "São olhares diferentes. Um olhar mais assistencialista e agora um olhar mais de geração de autonomia e renda", diz.
"O fato de ser primeira dama é ótimo, porque tem poder e proximidade com o governador, de você conseguir atender a uma população de uma maneira mais rápida, mais fluida e intersecretarial", afirmou. "O outro lado é que realmente precisava de mais gestão."
Ele, que é herdeiro do Grupo Sabará (gigante da indústria química voltada à fabricação de cosméticos), afirma que irá infundir um olhar "liberal no social", frase que já soa como slogan de campanha -ele usa a marca #liberalnosocial em publicações em redes sociais.
Sabará promoveu mudanças. Segundo ele, os cursos ministrados em gestões anteriores não eram satisfatórios. O de padaria, diz, durava apenas um dia e ensinava apenas uma receita. Hoje a oficina dura três meses e se chama gastronomia e hospitalidade.
"Agora é um curso com parceria com o setor privado para que as pessoas possam sair empregadas, e envolve a questão do empreendedorismo", diz.
Sabará diz que foi recebido em uma visita no Capão Redondo com a pergunta "onde está o panetone" que o Fundo costumava doar. No que retrucou: "Vocês querem receber o panetone ou aprender a fazer e ter a opção de comprar o que quiserem?
Ele coloca o programa Praças da Cidadania como o principal de sua gestão à frente do Fundo. O projeto propõe que os moradores de comunidades carentes recebam aulas de bioconstrução do governo do estado e trabalhem no desenho, na reforma e na construção de praças nas quais receberão aulas de diversos outros cursos. Em Santo André, onde acontece o projeto-piloto, a edificação da praça começou na quinta-feira (4).
"A gente propõe a ideia de, em espaços que estão vazios, construirmos locais ecológicos. A escola de bioconstrução é a primeira a chegar. É através dessa escola que construímos o espaço com a comunidade. Em vez de o estado chegar e fazer uma praça na favela, eles vão fazer conosco, através da escola", explica.