Do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, o presidente Jair Bolsonaro participou, ontem, de reunião entre o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, e o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. A informação foi dada por Onyx após o encontro, que ocorreu numa sala reservada do restaurante Rubaiyat, em Brasília. "Conversamos com Bolsonaro ao longo do nosso almoço", contou.
Onyx destacou que "muito brevemente" o presidente estará de volta a Brasília e poderá se reunir pessoalmente com o presidente do Supremo e os chefes dos outros poderes. O ministro não soube precisar, entretanto, se Bolsonaro receberá alta hoje, como está previsto.
Segundo Toffoli, o objetivo do encontro foi aprofundar o "diálogo" entre os poderes. O ministro destacou a "importância do respeito de competência de cada um dos poderes". "Esse diálogo de respeito entre poderes é importante. A fase em que poderes estavam em conflito passou." Ele ponderou que "diálogo não significa concordância com tudo".
O ministro da Casa Civil disse que o governo está construindo uma "grande aliança pelo Brasil". "O Brasil precisa buscar entendimento entre os poderes. É momento de pacificação", declarou.
O encontro não foi divulgado na agenda oficial de Onyx, apenas na de Toffoli. Nenhum dos dois divulgou o local, que aconteceu um dia após o Senado arquivar a CPI da 'Lava Toga' por falta de assinaturas - é preciso, no mínimo, de 27 dos 81 senadores.
Ao ser questionado sobre a omissão do almoço em sua agenda, Onyx negou que o fato tenha ocorrido, embora a informação não tenha sido atualizada mesmo após questionamentos de jornalistas feitos diretamente à assessoria do ministro.
Lava Toga
Toffoli negou que os ministros da Corte tenham atuado para que o Senado recuasse da abertura de uma CPI para investigar o "ativismo judicial" em tribunais superiores. Apelidada de "Lava Toga", a CPI era um pedido do senador Alessandro Vieira (PPS-SE), mas foi enterrada após três senadores retirarem o apoio. "Não tem nada disso", disse Toffoli.
Nos bastidores, membros do Supremo viram as digitais do ministro da Casa Civil nas movimentações para a criação da CPI, que, na visão deles, seria voltada para investigar a atuação de tribunais superiores - mirava, na verdade, a Suprema Corte.
Os senadores Kátia Abreu (PDT-TO), Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Eduardo Gomes (MDB-TO), que assinaram o requerimento para criação da "CPI da Lava Toga" num primeiro momento, desistiram antes que a comissão fosse instalada. O jornal "O Estado de S. Paulo" apurou que ministros do STF trataram do assunto diretamente com senadores no fim de semana.
Kátia contou que falou por telefone com o ministro Gilmar Mendes antes de recuar. Para a senadora, este não é o momento para abrir uma crise institucional no País. Alessandro Vieira disse que houve ameaça de retaliação por parte de ministros.