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O Planalto dos generais: Santos Cruz é anunciado para articulação política; governo Bolsonaro já conta com Heleno e Mourão

Fabio Rodrigues Roseebom/Agência Brasil -
Na Força da Paz no Congo, Santos Cruz foi personagem de documentário da TV Al Jazeera
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O presidente eleito Jair Bolsonaro surpreendeu mais uma vez, ontem, ao indicar o general Carlos Alberto dos Santos Cruz para a Secretaria de Governo. Tradicionalmente, cabe ao ocupante da pasta a articulação política do governo, em especial nas relações com o Congresso Nacional. Santos Cruz vai despachar no quarto andar do Palácio do Planalto, no gabinete vizinho ao do general Augusto Heleno, do GSI. A poucos metros dali, no anexo do Planalto, fica a sala da vice-presidência da República que será ocupada pelo general Hamilton Mourão. Para completar, dava-se como certo que o general Joaquim Brandão será o futuro ministro da Infraestrutura.

Ontem, nem mesmo assessores mais próximos de Bolsonaro sabiam dizer exatamente o que fará o general Santos Cruz na Secretaria de Governo. A única coisa certa é que, ao contrário do que se disse na semana passada, o cargo será mantido com status de ministério. A decisão anterior havia sido a de que a articulação política migraria para a Casa Civil, a ser comandada pelo atual ministro Extraordinário da Transição, Onyx Lorenzoni, e a secretaria de Governo seria extinta.

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Na Força da Paz no Congo, Santos Cruz foi personagem de documentário da TV Al Jazeera (Foto: Fabio Rodrigues Roseebom/Agência Brasil)

Atônitos com a notícia, anunciada mais uma vez pelo Twitter do presidente eleito, poucos foram os parlamentares que aceitaram comentar. Aqueles que se posicionaram, não viram com bons olhos. “A relação institucional feita por alguém que não foi formado para isso é pouco usual. Tenho dúvidas de que essa estratégia dará certo”, comenta o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). “A experiência mais eloquente que tivemos de militar ocupando essa função foi a do Golbery”, completa, em uma referência ao general Golbery do Costa e Couto, criador do SNI, que foi chefe da Casa Civil de Ernesto Geisel.

A aposta entre senadores e deputados é a de que, caso o general assuma as relações institucionais, o governo terá dificuldade para aprovar matérias mais difíceis.

“O presidente eleito dá claras demonstrações de que está disposto a adotar uma postura de enfrentamento ao Parlamento em seu governo. Primeiro, negociando apenas com as bancadas temáticas. Agora, colocando um militar para ser o principal negociador com o Congresso”, comenta o cientista político Benedito Tadeu Cesar, consultor e professor aposentado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS).

“A não ser que ele formate uma Secretaria de Governo com atribuições diferente das tradicionais, que não incluam as relações institucionais, haverá problema”, complementa, ressaltando que a negociação política não faz parte do perfil militar.

Ao desembarcar em Brasília hoje, Bolsonaro terá a principal tarefa de desenhar novamente o seu ministério. Na semana passada, o secretário-geral indicado Gustavo Bebianno havia dito que a secretaria de governo seria extinta.

Considerado linha dura, Santos Cruz comandou a Força de Paz das Nações Unidas no Haiti entre 2006 e 2009, e no leste da República Democrática do Congo, entre 2013 e 2015. Quando assumiu essa segunda missão, inclusive, ele já havia entrado para a reserva, mas foi convocado de volta por causa da atuação considerada bem-sucedida no Haiti, em um dos momentos mais dramáticos da guerra civil.

Santos Cruz chefiou, no Congo, a “Brigada de Intervenção”, marcada pelo uso da força para a pacificação. Por causa de sua atuação, Santos Cruz tornou-se personagem central do documentário “Congo e o General”, da TV Al Jazeera.

No governo de Michel Temer, Carlos Alberto dos Santos Cruz foi Secretário Nacional de Segurança Pública, cargo para o qual o futuro ministro da Justiça Sergio Moro, já havia comentando que gostaria de manter nas mãos do general.