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Presidente do Senado, Eunício Oliveira diz que não tem motivo para procurar o presidente eleito

Valter Campanato/Agência Brasil -
O senador Eunício Oliveira não aceita ser acusado de estar fazendo "uma pauta-bomba"
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Depois das acusações de que está aprovando pautas-bombas, o presidente da Senado, Eunício Oliveira (MDB), reagiu às críticas e afirmou que não está “preocupado” se o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) “vai gostar ou não” do resultado de votações no Congresso. Ao jornal “O Estado de S Paulo”, ele afirmou não ter sido procurado por integrantes do novo governo para discutir as matérias em tramitação. O senador cearense ainda contestou declarações de Paulo Guedes, futuro ministro da Economia, sobre a votação da reforma da Previdência e disse que se depender dele o MDB terá uma postura “independente, votando aquilo que for bom para o Brasil”.

“Tive o cuidado de dizer que nós estamos reduzindo os incentivos em torno de 40%, se não amanhã (vão dizer que é) pauta-bomba”, disse o senador sobre os incentivos fiscais ao setor automotivo. “‘Ah, o Bolsonaro diz que não gostou’. Não estou preocupado se Bolsonaro vai gostar ou não vai gostar. Qual o motivo de eu, como presidente de um Poder (Legislativo), vou procurar o presidente eleito de outro Poder (Executivo) para perguntar o que ele quer? Parece um oferecimento, disposição para se credenciar para alguma coisa”. Para Guedes, que também criticou a votação, mandou recado: Não adianta “dizer lá fora que não quer... Tem que primeiro se eleger para sentar aqui”.

Eunício afirmou que não aceitará que o acusem de estar “fazendo pauta-bomba” e nem que o “Congresso tem que ‘levar prensa’”. O senador, que não se reelegeu e apoiou Fernando Haddad (PT) nas eleições, disse não estar incomodado com o novo governo e que respeita a decisão das urnas. “Não votei no Bolsonaro, mas eu vou dizer o que disse Obama. Minha admiração não é pelo Trump, é pelo Obama. A população democraticamente disse que o presidente é ele (...) não sou eu que vou botar uma perna esticada para ele tropeçar, pelo contrário”, afirmou.

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O senador Eunício Oliveira não aceita ser acusado de estar fazendo "uma pauta-bomba" (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil )

Na entrevista, ao comentar fala de Paulo Guedes sobre o orçamento, o senador disse que “talvez as pessoas não saibam que o Congresso não sairá de recesso enquanto não for votado o orçamento”. Em encontro com Guedes no Senado, Eunício comunicou já ter prorrogado a votação do orçamento por duas vezes. E, em resposta, ouviu “façam o orçamento de vocês que eu faço o meu”. Na ocasião, o futuro ministro demonstrou desconhecer que o orçamento da União é definido em lei aprovada no Congresso em 2018 para ser executado no próximo ano.

Para o senador, quem não ocupou cargos públicos pode não entender o trâmite das matérias e a Constituição. Outro exemplo citado por ele é a exigência do futuro ministro em votar a reforma da Previdência. “‘Ah, o Eunício não quer votar a PEC da Previdência’. Eu posso até não querer, mas não é isso. Os constituintes foram sábios (...) autoprotegeram a Constituição e botaram que ninguém pode chegar e dizer: ‘Olha, acordo de líderes aqui, eu tenho maioria, muda a Constituição todinha que agora eu prendo e arrebento’”, afirmou sobre a proibição de votar emendas constitucionais em caso de intervenção federal, como a que está em vigor no Rio de Janeiro.

Depois de reclamar de Guedes por ter afirmado que “‘ou você vota a reforma da Previdência ou o PT volta’”, Eunício disse estar aberto a dialogar, mas que não aceitará interferência no Legislativo. Disse ainda estar disposto a colaborar, mas sem ferir o regimento do Congresso e a Constituição. “Primeiro que eu não estou preocupado com volta ou não do PT. Quem deve saber o que quer para a frente, quem assumiu a responsabilidade de governar o Brasil, infelizmente, não fui eu. Até o último dia em que eu for presidente, ninguém vai interferir nesse Poder, a não ser por entendimento, por conversa e harmonia”.