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Esquerda se articula, sem PT e PSOL

Líderes do PDT, PSB e PCdoB discutem bloco de oposição

Dida Sampaio/AE -
Na reunião de ontem, deputados explicaram que a ideia do bloco de esquerda não é isolar o PT, mas "articular por afinidade"
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Após a eleição de domingo, aguardava-se a união do campo progressista em oposição ao governo Bolsonaro, mas PDT, PSB e PCdoB anunciaram, ontem, a articulação para criar um bloco para fazer frente aos aliados do Palácio do Planalto no Congresso, sem a presença do PT e do PSOL. A iniciativa passa por garantir cargos na direção da Câmara, presidências de comissões e pela definição de quem irá comandar a liderança da minoria na Casa. O PT, maior bancada, e o PSOL não foram convidados para a reunião. O bloco terá um total de 69 parlamentares em 2019.

A decisão de quebrar a hegemonia do PT faz parte de resquícios da disputa eleitoral, em especial, a difícil negociação com o PSB e o fator Ciro Gomes, do PDT. Na primeira entrevista depois das eleições, o pedetista se disse “miseravelmente traído” por “Lula e seus asseclas” e criticou o acordo entre PT e PSB para isolá-lo na disputa. Ciro disse ainda não querer participar “dessa aglutinação de esquerda”, que para ele, “isso sempre foi um sinônimo oportunista para a hegemonia petista”.

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Na reunião de ontem, deputados explicaram que a ideia do bloco de esquerda não é isolar o PT, mas "articular por afinidade" (Foto: Dida Sampaio/AE)

Segundo o deputado Orlando Silva (PCdoB), a junção desses partidos não representa o isolamento do PT e sim é um “articulação por afinidade” para fortalecer a oposição. “Essa nossa articulação não é a favor ou contra nenhum um partido. Não tem nada de isolamento, o PT é muito grande”, diz. “O PT é um parceiro nosso e continuará sendo. Não existe essa hipótese de fazer um caminho de antagonismo ao PT”, completou Jandira Feghali (PCdoB-RJ).

O líder do PDT, André Figueiredo (CE), afirmou que o bloco terá uma ação independente em relação aos petistas, mas que poderá compor quando a pauta convergir. “Seremos todos oposição, mas a nossa maneira pode se diferenciar em alguns momentos. (...) Não queremos hegemonismo de nenhuma parte”, disse. “O PT pode eventualmente estar compondo conosco uma atuação parlamentar mesmo não fazendo parte do bloco, assim como o próprio PSDB”.

Assim como na Câmara, no Senado há iniciativa semelhante. Rede e PDT organizam um movimento capitaneado pelo senador eleito Cid Gomes (PDT-CE), irmão de Ciro, e pelo senador reeleito Randolfe Rodrigues (Rede-AP) para formar uma bancada sem o PT, incluindo o PPS e PSB. Juntos serão 13 senadores. “Oposição responsável e unida pelo Brasil e pelos trabalhadores!”, escreveu Randolfe ao publicar foto com Cid nas redes sociais.

O PT procurou minimizar esses movimentos e deve esperar a poeira baixar. A ideia é tratar o assunto com calma e no diálogo e petistas não pretendem brigar publicamente com seus antigos aliados. “Nós vamos fazer resistência. E nos momentos que pudermos estar juntos, vamos estar”, afirmou a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR). “Lamento que Ciro Gomes esteja tão irritado com seu resultado eleitoral insatisfatório. Mas entendemos suas dores e somos solidários. O que importa é a unidade contra o fascismo e o ataque aos direitos do povo. Nisso estaremos juntos!”, escreveu no Twitter.