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Bancada da bala: Deputados ligados à segurança se candidatam a ministério e disputam a presidência da Câmara

Ailton de Freitas/Agência Câmara -
Amigo de Jair Bolsonaro há quase 40 anos, o deputado Alberto Fraga (DEM-DF) é coordenador da bancada da bala e pode ser ministro
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A bancada da bala, como é conhecido o grupo de parlamentares originários do setor de segurança, prepara-se para ocupar posições estratégicas no Legislativo e no Executivo, caso o candidato Jair Bolsonaro (PSL), líder nas intenções de voto na disputa presidencial, saia vitorioso das urnas. Ontem, o atual coordenador da Frente Parlamentar da Segurança Pública, deputado Alberto Fraga (DEM-DF) informou ter ouvido do presidenciável que será o ministro das Relações Institucionais.

“Quando viu o número de deputados que consegui levar até a casa dele, Bolsonaro ficou surpreso e fez o comentário de que eu seria o ministro das relações institucionais. Ele sabe que a bancada da segurança pública tem muita afinidade comigo”, disse Fraga, ao relatar a visita que fez ao presidenciável na terça-feira com outros 32 integrantes da Frente. “A intenção foi levar o nosso apoio. Acredito no projeto dele”, acrescentou o deputado, coronel aposentado da Polícia Militar, lembrando ainda que os dois são amigos há quase 30 anos.

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Amigo de Jair Bolsonaro há quase 40 anos, o deputado Alberto Fraga (DEM-DF) é coordenador da bancada da bala e pode ser ministro (Foto: Ailton de Freitas/Agência Câmara)

Com forte atuação na Câmara dos Deputados desde 1999, Fraga candidatou-se este ano ao governo do Distrito Federal, mas ficou em quarta colocação. Ele também interrompeu o mandato parlamentar entre 2007 e 2010, quando atuou como secretário de Transporte do DF na gestão do governador José Roberto Arruda. Com estilo muito semelhante ao de Bolsonaro, ganhou repercussão nacional o episódio em que o parlamentar, ao acompanhar uma discussão entre os deputados Roberto Freire (PPS-SP) e Jandira Feghali (PC do B-RJ), declarou que “mulher que participa da política e bate como homem, tem que apanhar como homem também”.

Com Fraga fazendo a ponte entre o Executivo e o Congresso, outro integrante da PM, deputado Capitão Augusto (PR-SP) trabalha para ser o principal interlocutor na Câmara e já concorre à presidência da Casa. Ele estava no grupo que foi falar com Bolsonaro e disse que o tema “presidência da Câmara” não foi discutido com o candidato do PSL. “O Fraga não negociou nomes com Bolsonaro, porque todos aguardam o resultado das eleições”, relata o parlamentar, destacando que nem o seu nome nem o de Rodrigo Maia (DEM-RJ) foi mencionado. “Não é verdade que haja acordos para que ele apoie a reeleição de Maia, que não tem a menor afinidade com os temas relacionados aos projetos de Bolsonaro”, acrescenta.

Em sua estratégia, Capitão Augusto elencou três comissões permanentes que devem ser presididas pela bancada da bala: Constituição e Justiça e Cidadania (CCJC), Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado (CSPCCO) e, ironicamente, Direitos Humanos e Minorias (CDHM). “Essa questão dos direitos humanos foi muito desvirtuada pelo pessoal da esquerda, que fica só defendendo bandido. Estamos falando da dignidade das pessoas, especialmente do cidadão do bem. Direitos humanos não é para fazer a defesa de marginais. Está na hora da gente mudar e ir ao encontro do que a população espera: cuidar das pessoas de bem”, defende.

Para ele, dirigir a CDHM é fundamental para que um eventual governo Bolsonaro consiga emplacar uma política de segurança pública “que resolva o problema da criminalidade em 4 anos”. Ao interpretar o comentário recente de Bolsonaro de que o atual conceito de direitos humanos prejudica o desenvolvimento econômico do Brasil, o deputado exemplificou com o turismo. “A questão da criminalidade impacta diretamente o desenvolvimento do turismo. A cada três empregos gerados no mundo, um é relacionado ao turismo”.

A deputada Érika Kokay (PT-DF), conhecida defensora dos direitos humanos na Câmara, qualifica a pretensão de Augusto como “revelador da imodéstia e da ousadia do fascismo”. Ela disse que o PT, atual maior bancada da Casa, lançará mão de todos os instrumentos regimentais e constitucionais para impedir que a comissão “caia na mão de quem tem usa uma narrativa divergente dos direitos humanos e é antagônico aos seus princípios universais”.