A revelação do intenso assédio dirigido a Otávio Marques de Azevedo, ex-presidente da empreiteira Andrade Gutierrez, por autoridades e políticos pedindo dinheiro para campanha traz à tona também uma importante questão. Nas gravações reveladas, fica claro que Otávio Azevedo se comportava como um intermediário, já que ele nunca concedia a verba imediatamente. Sempre dizia que ia analisar o pedido. Se ele ia analisar, não era do bolso dele que saía. Otávio era intermediário da Andrade Gutierrez com alguém com poder acima dele. O verdadeiro "capo". Se ele fosse o "capo", decidia na hora, pagava na hora. E quando efetuava o pagamento, falaria "já fiz", e não "já foi feito."
Por exemplo, nas conversas com Oswaldo Borges, apontado como um tesoureiro informal do senador tucano Aécio Neves, em agosto de 2014, em meio à campanha presidencial, Oswaldo pergunta a Otávio se era possível “falar na quinta às 19h em Sp”.
Dois dias depois, Otavio responde: “Já foi feito”. Oswaldo agradece no mesmo dia: “Obrigado Otavio. Com vc funciona!!!rsrs”.
Em outro diálogo com um interlocutor identificado como Manoel Araujo, ex-chefe de gabinete de Edinho Silva na Secretaria de Comunicação Social do governo Dilma, este fala "Bom dia, Otávio! Mandei-lhe os dados por e-mail." E Otávio responde: "Já foi feito."
Quando há denúncias contra políticos, envolvendo intermediários, as acusações pesam sobre o político. Quem está sendo denunciado é o político, e não o intermediário. Por que, quando as denúncias envolvem empreiteiras, as acusações pesam sobre o intermediário, e não sobre a empresa, o verdadeiro "capo"?
No caso do surgimento, nas delações premiadas das grandes empreiteiras com a Operação Lava Jato, do nome do ex-deputado federal do PSDB Márcio Fortes como interlocutor do ministro José Serra junto aos empresários, as acusações pesam sobre Serra, e não sobre Fortes.
No caso da Andrade Gutierrez teria de ser o mesmo. Quem paga não é Otávio Azevedo. Quem paga é o "capo", a empresa. Eles, sim, deveriam ser denunciados.