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O comitê da campanha de Dilma e o desprezo com o resultado das eleições

Incoerência nos palanques mostra que, na verdade, vitória não é prioridade

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O desprezo com que coordenadores da campanha para a reeleição de Dilma Rousseff tratam Lindbergh Farias, do PT, não é de quem tem vontade de ganhar a eleição, porque não tem consistência política. É um desprezo que só pode ter como justificativa uma motivação pessoal.

Lindbergh é o único candidato que tem comprometimento com o voto em Dilma Rousseff e com o seu partido, o Partido dos Trabalhadores. 

O senador Francisco Dornelles está levando o grupo do governador Luiz Fernando Pezão para votar em Aécio Neves, como informou uma revista de grande circulação. Ao mesmo tempo, Pezão conta com apoio de Dilma na disputa no Rio, e não deu qualquer declaração afirmando que não aceita este tipo de divisão.

Nas pesquisas, os três primeiros no Rio são Anthony Garotinho (PR), Marcello Crivella (PRB) e Lindbergh Farias (PT). Se estas posições se mantiverem até o dia da eleição, dois desses vão para o segundo turno. Mas se esta ordem não for respeitada pela força da máquina do governo, Pezão disputará a eleição com um dos três. No jogo dos palanques, é claro que o único que não tem condições de votar em Dilma no segundo turno das eleições Presidenciais é Pezão: os eleitores de Crivella são eleitores de ministro da Dilma (Crivella deixou a Pesca, que foi assumida por Eduardo Lopes, também do PRB), e vão votar nela. Os eleitores de Garotinho não podem votar no Aécio Neves porque Aécio é do grupo de Dornelles, que apóia Pezão. E Lindbergh é, como todos sabem, do mesmo partido da Presidenta.

Se Crivella, Garotinho e Lindbergh votam em Dilma, em quem Pezão vai declarar seu voto durante a disputa do segundo turno com um desses três? Em Dilma também? Ou Pezão vai se inclinar para os outros grupos que apoiam sua campanha, mas na batalha pela Presidência são adversários de Dilma?

Se levarmos em consideração que a disputa para a Presidência também se encaminha para um segundo turno, com Dilma, Aécio e Eduardo Campos à frente, estas questões ficam ainda mais evidentes.

A relação dos palanques para do governo do Rio e da Presidência nos leva às seguintes análises:

Os eleitores de Crivella não podem votar em Eduardo Campos. Os de Lindbergh também não e muito menos os de Garotinho, que tem como adversário político o deputado estadual Marcelo Freixo, do Psol, que por sua vez apóia Eduardo Campos. 

Ciro Nogueira, presidente do PP, foi chamado para indicar um ministro, imaginando que isso representa que vai ter de Dilma apoio para seu partido. Contudo, dos três maiores estados do país, em dois - Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro -, o PP vai estar apoiando Aécio Neves - Ana Amélia, em articulação feita pelo senador Francisco Dornelles, já fechou este apoio.

Em Santa Catarina, o PP de Espiridião Amim vai apoiar Aécio Neves. Aliás, o mesmo PP que vai ganhar um ministério de Dilma.

Junta-se neste caldeirão o suposto envolvimento do ex-ministro Mario Negromonte, do PP, nas denúncias envolvendo a Petrobras.

Todo este emaranhado político leva a crer que, na realidade, há um desprezo pelo resultado das eleições. Parece que existe um serviço de inteligência identificando uma crise em 2015, quando dificilmente qualquer candidato eleito poderá governar. Principalmente se a crise na Petrobras já tiver passado, permitindo o fim do subsídio aos preços da gasolina, o que inexoravelmente fará subir a inflação, mesmo sendo 0,25% como os técnicos mais competentes avaliam.

Com o não crescimento da China, a estagnação da Europa e um crescimento pífio - de 2% ou 3% - dos EUA, quais são os prognósticos para o Brasil? Aí, sim, pode-se justificar que os assessores da campanha de Dilma vejam com ceticismo uma reeleição, e tudo estará justificado.