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Do "fundo do poço" à glória, Zé Roberto vira o 1º tri olímpico do Brasil 

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Se José Roberto Guimarães já tinha entrado na história do vôlei brasileiro com um retrospecto de primeiro campeão olímpico com uma Seleção masculina, primeiro campeão olímpico com uma Seleção feminina e único a vencer tanto no masculino como no feminino, neste sábado, 11 de agosto, o treinador transcendeu a modalidade. Único tricampeão olímpico no País, a carreira vitoriosa dele nunca sofreu tantos desafios como na campanha atual. Depois de uma primeira fase cambaleante, em que teve de depender de uma vitória dos Estados Unidos sobre a Turquia para passar às quartas, o time acabou com o estigma de derrotas dramáticas para a Rússia nas quartas e ainda desbancou as favoritas americanas na decisão. Como ele mesmo disse saiu do "fundo do poço" na primeira fase e agora pode comemorar a glória olímpica mais uma vez.

Com um perfil boa praça e conselheiro, o treinador teve de enfrentar antes de sair do Brasil críticas de Mari, uma das suas principais jogadoras nos últimos oito anos. Coube ao tempo mostrar que ele não estava errado em suas decisões. Coube a ele manter a calma de suas atletas, tirar da cabeça delas traumas do passado e mostrar que tinha confiança nas jogadoras que estavam em suas mãos, mesmo nos momentos mais complicados. Em nenhuma parte da campanha do Brasil se viu o treinador reclamando individualmente de suas atletas. Abaixo um relato do que foi Zé Roberto na uma hora e meia em que saiu de bicampeão olímpico para único brasileiro a ter três medalhas de ouro na competição esportiva mais importante do mundo.

Mesmo em sua terceira final olímpica, o treinador se mostrava ansioso com a partida. Tanto que antes mesmo do duelo começar, Zé Roberto até esqueceu de tirar a credencial e enquanto os times eram apresentados, teve de sair correndo para entregar o objeto a José Elias, chefe de equipe que fica atrás da quadra.

Diferente das quartas e semifinal, o time começou de forma morosa e se viu parado na recepção americana em várias tentativas de ataque e contra-ataque. Sem paciência em tanto tentar e não conseguir, a Seleção acabava cometendo erros bobos de ataque e com 5 a 1 no placar, Zé Roberto já viu que era hora de parar a partida. Calmo, deu orientações de forma tranquila para suas comandadas.

O primeiro momento em que perdeu a paciência foi quando as rivais desgarraram no placar. Irritado com um ataque errado sem bloqueio de Thaisa, deixando as americanas fazerem 13 a 5, o treinador deu uma bronca em sua meio de rede. No segundo tempo técnico, o treinador contou com a ajuda do auxiliar técnico Paulo Coco, uma espécie de "Zé Roberto 2", para passar instruções às sete jogadoras ao mesmo tempo.

Preocupado com a larga desvantagem, o treinador reclamava da arbitragem em pontos que achava que a bola tinha resvalado no bloqueio, em uma tentativa desesperada de fazer o Brasil sair da situação ruim em que se encontrava na partida. Com 19 a 7, um verdadeiro vareio das americanas, o treinador recorreu ao banco pela primeira vez, colocando Paula Pequeno no lugar de Garay e Adenízia, conhecida por ser uma jogadora que sempre entra para inflamar o grupo, no lugar de Thaisa.

As mudanças não mudaram o clima dentro de quadra e o primeiro set acabou de forma humilhante: 25 a 11. Atônito, Zé Roberto terminou a parcial paralisado sem esboçar uma reação sequer após Fabi tocar em um ataque americano e a bola ir para fora. Coçando a cabeça, Zé Roberto evitou transparecer o nervosismo pelos erros para suas atletas. Com conversas ao pé do ouvido tentou mostrar onde estavam os erros e que o Brasil não podia se intimidar com as invictas americanas.

Na segunda parcial, o Brasil voltou para a quadra com a animação que dele se esperava. Contagiado pelo astral da equipe, o Zé Roberto vibrante, que foi capaz até de dar peixinhos após a vitória contra Rússia, também retornou à quadra. Mais ligado, ele queria evitar que as americanas chegassem e abaixassem a moral de sua equipe. Por este motivo, deu um belo puxão de orelha em Dani Lins em um lance que fez as americanas encostarem no placar: 12 a 10.

Coçando a cabeça, andando de um lado para o outro da quadra, o treinador parecia jogar com suas atletas. Dominando a parcial, o Brasil não teve trabalho para fechar em 25 a 17. Ainda sabendo que tinha muito pela frente, Zé Roberto não comemorou muito o empate. A postura que o treinador queria e que deu certo no segundo set, voltou na terceira parcial.

Buscando defender bolas difíceis, resvalando vários ataques das rivais, o Brasil entusiasmou a arquibancada e Zé Roberto. A comemoração que era tímida na parcial anterior passou a ser mais explosiva por parte do treinador. O único momento em que voltou a coçar a cabeça foi quando os Estados Unidos diminuíram a vantagem para dois pontos (17 a 15). Mesmo assim aplaudiu Fabiana, que cometeu o erro de ataque, e incentivou: "vamos, vamos". Dono do jogo naquele momento, o time brasileiro viu as americanas, que cometem poucos erros, baterem cabeça na quadra. O sorriso no rosto e as palmas ao Brasil fazer 25 a 20, mostravam como Zé Roberto estava satisfeito com o que via em quadra.

No último set, o nervosismo deu lugar a euforia. O treinador, mais confiante da vitória, viu o time seguir dominando a partida. Um ponto emblemático foi o 14º ponto brasileiro. Zé Roberto deu um pulo como se estivesse atacando uma bola e o treinador americano, Hugh McCutcheon, foi obrigado a parar a partida, tentando um último suspiro. Não adiantava, o dia era do Brasil. O dia era pela terceira vez de José Roberto Guimarães.