Os dois shows que o ex-beatle Paul McCartney fez no Rio mexeram com a cidade. Para ser mais preciso, mexeram com o coração do Rio. Não só das cerca de 100 mil pessoas que lotaram o estádio Engenhão no domingo e na segunda-feira, mas também de todos os cariocas que gostam de música e poesia. Não é todo dia que se pode estar diante de um dos maiores gênios da música em todos os tempos e, melhor, ainda no auge da forma.
Nessas raras ocasiões, toda uma cidade é abençoada pela música. Os trens da SuperVia, normalmente condutores de trabalhadores cansados e insatisfeitos com o transporte que o estado lhes proporciona, carregaram, graças ao ex-beatle, pessoas enlevadas por sua poesia e seus acordes. Não houve briga, nem quebra-quebra. Pais, filhos e avós foram e voltaram para casa num clima de paz.
Sucessos como Let it be e Hey Jude – este com direito a um mosaico de cartões com o monossílabo do refrão, “na na na na”, que surpreendeu e emocionou o artista e sua banda – romperam as barreiras do estádio e ecoaram por todo o bairro do Engenho de Dentro (Zona Norte).
Quem viu, viu, cantou e se arrepiou. Aos que não viram, resta torcer por mais uma visita do cantor e músico inglês ao Brasil – a anterior foi há 20 anos.
Quando se vivencia uma experiência assim, volta-se a acreditar que as pessoas podem conviver em harmonia e que a sensibilidade, tão solapada pelo cotidiano competitivo em que vivemos, ainda pode vicejar.