O diretor mineiro Helvécio Ratton, desta vez, resolveu documentar suas raízes. O resultado poderá ser visto já no segundo semestre, quando entrará em circuito nacional o documentário “O mineiro e o queijo”, que trará à luz a história e os mistérios do acepipe mais cortejado das Minas Gerais.
Como o sr. resume este seu novo filme?
Ele é político na medida em que expõe a situação dramática de um famoso produto da agricultura familiar, o queijo Minas artesanal, considerado patrimônio cultural do Brasil mas impedido de chegar legalmente ao mercado nacional por culpa de uma legislação federal burra e antiquada. Poético, porque mostra a presença do queijo na vida e no imaginário dos mineiros, uma ligação histórica e afetiva.
Então o queijo Minas que comemos Brasil afora não é o original?
O verdadeiro queijo Minas, só pode ser comercializado em Minas Gerais porque a legislação federal se baseia em normas sanitárias anacrônicas, de 1952, e que atendem aos interesses dos grandes laticínios. O chamado “queijo Minas” vendido em supermercados de Rio e SP é o frescal, uma massa aguada e sem sabor. Por baixo do pano, toneladas do queijo Minas artesanal atravessam as fronteiras do estado ilegalmente e abastecem as indústrias de pão-de-queijo, por exemplo. O queijo Minas artesanal se compara aos melhores queijos da França ou de Portugal, é produzido da mesma maneira há quase 300 anos, a partir do leite cru, não pasteurizado, em pequenas propriedades.
E como é o filme?
É um documentário de 70 minutos, rodado nas principais regiões queijeiras de Minas, na Serra da Canastra, no Serro e no Alto Paranaíba. Mostra onde, como e quem faz esse queijo. Filmamos pequenos produtores no alto das serras e também a grande indústria, para mostrarmos a diferença entre os dois produtos, o artesanal e o industrial, o mercado e o preço de cada um. O filme é profundamente mineiro, falar de queijo é falar de nós. E tem personagens fantásticos e casos ótimos.
O que mais o impressionou nesse trabalho?
A dignidade dos pequenos produtores de queijo, o orgulho e a consciência que têm de produzir o mesmo que seus bisavós ou tataravós, da mesma maneira, como se fossem guardiães de um saber.
Como lidar com as dificuldades que envolvem o cinema brasileiro?
Meu sentimento é de esperança e impotência... Há problemas estruturais, como o pequeno número de salas e sua concentração nos bairros de maior poder aquisitivo. Falta também a participação das TVs na produção e divulgação dos filmes. Só a Globo trabalha no segmento e com filmes de determinado perfil, deixando de fora a esmagadora maioria das produções. O que daria um alento ao nosso cinema e aumentaria sua presença na vida brasileira seria sua introdução, de forma estrutural nas escolas. Seria nosso grande salto e que é muito possível, basta vontade política.