ASSINE
search button

Sergio Sebold: O declínio da família humana

Compartilhar

Em artigos anteriores (Suicídio demográfico e O inverno demográfico) expúnhamos a visão desoladora dos países que já sentem o declínio de suas populações. Em recentes estudos e encontros internacionais com as maiores celebridades acadêmicas, economistas, sociólogos, demógrafos, jornalistas, inclusive Prêmio Nobel, se conclui que este declínio está muito mais ligado por problemas da estrutura familiar do que problemas de economia, política, tecnologia. Frisa-se, são pessoas e cientistas não vinculados a círculos religiosos que tradicionalmente trazem este assunto à tona.  

O declínio da família humana, aqui no sentido estrutural, expõe as severas consequências econômicas e sociais da sua fragilização e da queda de natalidade em todo o mundo. Queda esta observada pela redução dramática da geração de filhos por mulher em idade reprodutiva, abaixo de 2,1 necessários para reposição das gerações,  incluindo o Brasil. 

Embora se reconheça que existe um “excedente” populacional que pressiona o meio ambiente, o que se observa é uma acentuada e rápida mudança na estrutura da pirâmide etária, em tempo muito exíguo, para que possa haver adequação de todos os recursos disponíveis, materiais, sociais, humanos, tecnológicos, previdenciários etc. E isto, na linguagem demográfica, significa menos de 30 anos em que seus efeitos já se fazem sentir.

Estes pesquisadores mostram como a existência de um capital humano forte e coeso é necessário para que cada economia possa se desenvolver. O desenvolvimento deste capital depende mais das famílias de que é constituído do que de qualquer outra forma de instituição. Estes acadêmicos mostram a necessidade de se constituir um forte capital moral e social, dentro da família, como uma base sólida para este capital humano. Realçam, ainda, como o apoio à família é crucial no desenvolvimento das capacidades profissionais e da educação como cidadão. Para que as sociedades sejam estáveis, com economias saudáveis, estes são elementos vitais de sobrevivência, conclui aquele grupo.  

Em diversos países (europeus principalmente), mais dramaticamente naqueles em que não ocorrem migrações, já se observa a redução de suas populações. E neles logo, logo começarão a sentir-se os efeitos de uma economia em contração. Neste sentido, começam a sentir os efeitos do envelhecimento e, por ironia, com populações mais longevas para ampliar o problema de sua manutenção.

A geração do baby-boom está atingindo a idade de substituição e necessitará ser suportada pelas gerações que vão sucedê-la, quando estas tiverem cada vez menos filhos. Por um simples raciocínio, significa que, cada vez mais uma população ativa deverá pagar maiores custos do sistema de seguridade social, serviços de saúde e bem-estar social. Em escala global isto deverá ser dramático. Por efeito, os governos terão cada vez menos capacidade de resposta com a queda na produtividade e na arrecadação de impostos sobre a produção em declínio.

Os países desenvolvidos, com uma fertilidade abaixo do nível de reposição das gerações, têm buscado na imigração (de seus descendentes até a quarta geração) uma saída para manter seus níveis de produção laboral. Esta leva de imigrantes, por sua vez, tem levado aos paises anfitriões uma mudança no seu panorama social, e não muitas vezes palco de grandes tensões culturais.  Por outro lado, a imigração de um país é a emigração do outro que perde em mão de obra, vindo deteriorar sua produtividade interna, reduzindo por consequência o crescimento de sua economia. Neste cenário, a separação de membros da família (pais ou filhos que vão trabalhar em outros países) se torna um fator de fragmentação familiar, nos países de origem, onde suas taxas de natalidade também sofrem com o efeito da redução.

Conforme concluído pelos cientistas acima, a fragmentação, a deterioração dos valores familiares, como abandono de filhos, separações, isolamentos sociais, “turn over matrimonial”, está dando origem a outras formas de convivência, gerando decadência dos valores morais e éticos na sociedade, repercutindo em todo tecido social.  

Sergio Sebold é economista e professor de pós-graduação do ICPG/Uniasselvi - Blumenau - [email protected]