É evidente o aumento das grandes produções musicais no eixo Rio-São Paulo, que procuram, com êxito crescente, reproduzir o know-how da Broadway. Mas não é a única vertente a fazer sucesso nos palcos brasileiros. Subver sões 21 e Fascinante Gershwin – Uma revista musical , ambos em cartaz na cena carioca, revelam eventuais semelhanças – em especial, no que se refere ao investimento num formato de bolso – e diferenças evidentes. Basta dizer que o primeiro faz uma evocação do kitsch, enquanto o segundo se dedica a uma celebração do clássico.
S u bv e r s õ e s é um caso único. O 21 do título se refere à quantidade de anos que o espetáculo vem sendo apresentado. Não ininterruptamente. E nem exatamente o mesmo espetáculo. Mas Márcia Cabrita, Luís Salém e Aloísio Abreu, trio conduzido por Stella Miranda, mantêm o espírito irreve rente da proposta e preservam parte do repertório original da primeira versão, de 1990, como pode ser comprovado na temporada que toma conta do Teatro dos Quatro, no Shopping da Gávea. Fascinante Gershwin , por sua vez, é “fenômeno” recente. Estreou no Centro Cultural da Justiça Federal, no Centro, em junho do ano passado, e migrou para o Teatro do Fashion Mall em setembro.
Subversões 21 traz à tona uma inconfundível atmosfera dos anos 70 e, em especial, dos 80, através de paródias de músicas como P da vida , do Grupo Dominó, Ma nhãs de setembro , entoada por Vanusa, e O amor e o poder , sucesso na voz de Rosana. Faz o espectador rememorar o emblemático Cre púsculo de Cubatão , inferninho de Copacabana onde, aliás, a peça estreou.
– Era um porão, uma garagem com vigas – lembra Stella Miranda. – Um lugar escuro, bizarro, com sofás de plástico vermelho. Eu não frequentava. Só estive lá por causa de Subversões . Eu até sou eclética, mas nem tanto.
Apresentado ao longo dos anos em espaços os mais variados, do Crepúsculo ao Canecão, Subversões pode ser inscrito, neste momento, na série de eventos saudosistas da década de 80.
– Adorava a minha cara e o meu corpo dos anos 80 – brinca Stella, que, no início dos 90, criou a dupla Chicotinho e Salto Alto ao lado de Kátia Bronstein.
Subversões também esteve bastante próximo do besteirol, gênero marcado por humor irreverente, ácido e crítico que vigorou na cena carioca nos anos 80.
– Defino nossa proposta como besteiral, junção de besteirol com musical – resume Stella Miranda, acerca de um espetáculo que conta em seu eclético repertório com paródias de músicas como My way (Frank Sinatra), Estrangeiro (Caetano Veloso), W/Brasil (Jorge Ben Jor), We are the world (Quince Jones) e até Bad romance (Lady Gaga).