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Joe Lovano lança terceiro CD do seu quinteto US Five

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O quinteto Us Five do esplêndido saxofonista-compositor Joe Lovano – integrado por dois bateristas (Francisco Mela e Otis Brown III), pela baixista-new star Esperanza Spalding e pelo pianista James Weidman - “estourou”, em 2009, com o disco Folk art, que foi o mais votado entre os 50 Top CDs do ano na eleição dos críticos da revista Jazz Times. Em 2011, na mesma seleção, o segundo registro do grupo, Bird songs, chegou em segundo lugar, logo depois do espetacular Road shows, vol.2 (Doxy), álbum com o qual Sonny Rollins – o maior músico de jazz vivo – celebrou o seu 80º aniversário. 

Na segunda semana deste novo ano, Lovano, 60 anos, lançou o terceiro CD do Us Five, intitulado Cross culture – o 23º de sua discografia gravado e distribuído pelo selo Blue Note. Mas, desta vez, o líder convidou o guitarrista africano Lionel Loueke para justificar ainda mais o caráter transcultural da faixa-título e de cinco outras das 11 faixas do álbum, das quais apenas uma – Star crossed lovers (da suíte Such sweet thunder, de Duke Ellington-Billy Strayhorn) – não é assinada pelo saxofonista. Ou seja, o Us Five passou a ser também Us Six. Além disso, a brilhante Esperanza só atua em quatro faixas, embora seja substituída à altura por Peter Slavov, baixista nascido na Bulgária, formado no Berklee College de Boston, e radicado em Nova York. 

Do sax tenor de Joe Lovano flui um destilado de fabrico próprio cujas raízes estão nas alquimias sônico-harmônicas de John Coltrane, Wayne Shorter e Joe Henderson. Neste novo álbum, sua linguagem exploratória é ainda mais criativa e imprevisível, não só em matéria de timbres mas também na interação quase sempre fervilhante com os percussionistas, com o piano muito esperto de Weidman e com o convidado Lionel Loueke.

O chefe do Us Five (ou do “Us Six”) volta a tocar o estridente aulochrome (sax soprano duplo), o taragato (espécie de clarinete húngaro também usado por Charles Lloyd) e o sax mezzo-soprano, a fim de dar colorido especial às faixas mais world music do CD, nas quais tem destaque o guitarrista do Benin. São elas, respectivamente, as seguintes: In a spin (4m25), Drum chant (4m20) e Journey within (5m40). 

Mas o sax tenor de Lovano aparece mais hipnótico e serpenteante do que nunca, avivado pelos tambores, pratos e címbalos da dupla Mela-Brown, logo na primeira peça, Blessings in May (6m15), num solo de dois minutos e meio. E também em Myths and legends (4.55), Royal roost (5m50) e em PM (7m45) – esta a sua homenagem ao venerado baterista-compositor Paulo Motian, falecido aos 80 anos, em novembro de 2011, e que foi seu parceiro naquele trio de 30 anos atrás completado pelo eminente guitarrista Bill Frisell.

A cereja no topo do bolo, ou melhor, do recém-lançado Cross culture é a interpretação de Lovano, no sax tenor, da balada The star-crossed lovers (7m30) - a parte referente a Romeu e Julieta da magnífica suíte inspirada em personagens skakespeareanos que Ellington e Strayhorn escreveram, em 1956, por encomenda do Stratford (Ontario) Shakespeare Festival. O solista da gravação original era o saxofonista alto Johnny Hodges, e Joe Lovano mantém o mood pungente do “Rabbit”, sem deixar de reverenciar Ben Webster, o balladeer por excelência dentre os tenoristas do jazz.

Joe Lovano afirma, no release da Blue Note Records, que o novo disco do US Five “combina as estruturas harmônicas e rítmicas do jazz moderno num fluxo bem free, com uma energia tribal, enfeixando aspectos do mundo musical que ultrapassam os limites das categorias jazzísticas propriamente ditas”.