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Steve Kuhn lidera trio de notáveis em novo CD 

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Em 1965, o pianista Steve Kuhn e o baixista Steve Swallow integravam o quarteto de Art Farmer (1928-99), mestre do trompete e do flugelhorn, e com ele gravaram o inesquecível álbum Sing me softly of the blues (Atlantic). Mais de 45 anos depois, os septuagenários Kuhn e Swallow, no ápice de suas faculdades técnico-criativas, convocaram o também admirável baterista Joey Baron para um novo encontro em estúdio, registrado pelo selo ECM no recém-lançado CD Wisteria.

A faixa-título desse disco é um tema de Art Farmer, de uma de suas duas primeiras sessões como líder (Prestige, 1954), reeditadas em CD sob o título Early Art (Original Jazz Classics, 1996). Das 10 outras faixas de Wisteria, seis são da pena de Steve Kuhn, o que lhe assegura o status de comandante do trio. São elas: Chalet (6m25), Adagio (7m05), Morning drew (6m35), A likely story (6m45),Pastorale (6m15) e Promises kept (5m30).  

Em 2007, a Blue Note lançou Live at Birdland, gravado por Kuhn no clube de Nova York, no ano anterior, na companhia dos notáveis Ron Carter (baixo) e Al Foster (bateria). Ao comentar aquele álbum nesta coluna, escrevi então: “Um dos mais articulados, criativos e originais mestres das 88 teclas, autor de uma razoável discografia, Steve Kuhn nunca mereceu o reconhecimento devido. Para o também pianista, crítico e historiador Ted Gioia, ‘sua maestria no domínio das suaves nuances assurdinadas e das fortes cores tempestuosas do piano não tem paralelo no jazz’. Gioia afirma ainda: ‘É preciso que se vá a mestres clássicos, como Horowitz, para encontrar um controle semelhante de tom’”.

O comentário é reproduzido agora por que nada de essencial mudou em relação ao que se disse acima. A não ser o fato de que Kuhn é cada vez mais ageless, mais contemporâneo, no sentido de que sua música não apenas resiste ao teste do tempo, já que sempre o supera. Contudo, ele continua underrated. Mesmo depois do sucesso de crítica de seu álbum anterior para a ECM, Mostly Coltrane (quarteto com Joe Lovano, sax tenor; David Finck, baixo; Baron, bateria), 21º na lista dos 50 Top CDs de 2009, escolhidos na votação anual dos críticos da referencial revista Jazz Time.

No novo CD, o trio de Kuhn interpreta — além das peças acima citadas do pianista — Permanent wave (6m35), de Carla Bley; Romance (4m25), de Dori Caymi; e Good lookin’ rookie (5m50), de Steve Swallow.

Os moods são tão variados como o jogo de contrastes que o pianista cria entre os glissandos no registro agudo e os acordes (ou clusters) por vezes tempestuosos nas teclas graves. O trio não segue a regra habitual do tema-solos-troca de compassos-volta ao tema. Logo na faixa de abertura, Chalet, o tempo dobra um minuto depois da introdução de Kuhn, que sola, e em seguida chama os parceiros para comentários que fluem em interação contínua. A likely story  é uma das faixas mais contagiantes do disco, bem bop, em tempo acalerado, com brilhantes intermissões do pianista  em feitio de fugas. Adagio não é tão lenta como indica o título, e é rica em efeitos percussivos. A chave de ouro do CD é Good lookin’ rookie.