Durante meses, a oposição e parte da comunidade internacional pediram eleições na Venezuela. Mas quando o presidente Nicolás Maduro as convocou, em busca da reeleição, os opositores decidiram boicotá-las e vários governos as consideram ilegítimas.
Seguem as principais razões alegadas pela coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD) e governos das Américas e Europa:
- Data:
A MUD rejeitava que a situação antecipasse as eleições para este domingo - tradicionalmente são celebradas em dezembro -, após o fracasso, em fevereiro, de um diálogo na República Dominicana.
"São apressadas e não dá tempo aos partidos para se organizar", disse à AFP Félix Arroyo, técnico eleitoral da MUDA.
O constitucionalista Pedro Afonso Del Pino avalia que o governo antecipou a data para evitar que um recrudescimento da crise econômica minasse ainda mais a popularidade de Maduro, de 20%, segundo a empresa Datanálisis.
"Também aproveita que a oposição não está unida com um só candidato", avaliou.
Na contramão da MUD, o opositor e dissidente do chavismo Henri Falcón se candidatou, aprofundando as fissuras na oposição.
- Inabilitações:
A MUD e vários governos repudiam que os principais adversários de Maduro, Henrique Capriles e Leopoldo López (em prisão domiciliar), estejam inabilitados politicamente.
"São as duas principais referências na oposição, condiciona-se muitíssimo a oferta eleitoral", afirmou à AFP o especialista em eleições Eugenio Martínez.
As autoridades impuseram, ainda, um processo de reinscrição de partidos que deixou fora de jogo a MUD e seus dois principais partidos, o Primeiro Justiça - de Capriles -, e o Vontade Popular, de López.
Isto "impede que esta eleição possa ser confiável", destaca a coalizão.
Para o cientista político Luis Salamanca, trata-se de uma eleição "feita sob medida" para Maduro.
- Condições:
A MUD pediu sem sucesso mudar o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), onde quatro de cinco reitores são afins ao governo. Dois continuam nos cargos com seu mandato vencido.
Segundo a MUD, "uma eleição confiável passa por equilibrar o CNE".
"A atitude das quatro reitoras é pró-oficialista. No entanto, com este CNE a oposição venceu em 2015" as legislativas, relativizou Del Pino.
A oposição exige observação internacional. A União Europeia recusou-se a participar e pediu op adiamento da eleição.
Martínez ressaltou, ainda, a desconfiança no sistema automatizado de votação, depois que a empresa Smartmatic, fornecedora do programa, denunciou a manipulação da cifra de participação na eleição da governista Assembleia Constituinte.
- Clientelismo:
A oposição acusa o governo de oportunismo e clientelismo.
Durante a campanha, Maduro aparece diariamente na TV em atos multitudinários, entregando casas, bônus e caixas de comida mediante o Carnê da Pátria, necessário para se ter acesso aos programas sociais. "Isto é dando e dando", afirma.
Em meio à crise econômica, "os cidadãos são mais dependentes do que nunca do Estado e suscetíveis de ser pressionados para condicionar seu voto", afirmou Martínez.
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