ASSINE
search button

Candidata a chefiar a CIA promete não retomar programas de tortura

Compartilhar

Gina Haspel, nomeada pelo presidente Donald Trump para dirigir a CIA, assegurou nesta quarta-feira (9), diante de membros do Senado dos Estados Unidos, que a agência de Inteligência não irá retomar os programas de tortura de prisioneiros sob a sua liderança.

Haspel, de 61 anos, vice-diretora da Agência, enfrentou grande oposição após sua nomeação em razão de seu trabalho em uma prisão secreta da CIA na Tailândia, em 2002, onde suspeitos de pertencer à rede extremista Al-Qaeda foram submetidos a torturas.

"Por ter servido neste período conturbado, posso oferecer meu compromisso pessoal, claro e sem reserva de que, sob a minha liderança na CIA, não será restabelecido tal programa de detenção e interrogatórios", declarou na audiência perante o Comitê do Senado.

"Em retrospecto, está claro que a CIA não estava preparada para conduzir um programa de detenções e interrogatórios", acrescentou.

- 'Interrogatórios', tortura não -

Oficialmente, o programa era definido como "interrogatório melhorado" e recebeu apoio do sistema judicial americano durante o governo de George W. Bush, e, portanto, seus encarregados se negam inclusive a mencionar a palavra tortura.

Posteriormente, uma comissão do Senado chegou à conclusão que se tratavam simplesmente de torturas sob uma questionável proteção legal.

Nesta quarta-feira, Haspel evitou condenar o programa, aplicado entre 2002 e 2005, período no qual cidadãos estrangeiros detidos em locais secretos de todo o mundo eram submetidos a torturas, em especial ao chamado submarino ("waterboarding"), ou simulação de afogamento.

Mais tarde, como funcionária de alto escalão da CIA, foi acusada de ter destruído vídeos que mostram estas práticas.

Pressionada pelos senadores por conta das razões de não ter denunciado estas torturas no momento adequado, Haspel limitou-se a responder que seguia ordens de superiores.

Além disso, justificou, este programa de torturas ajudou a obter "informação valiosa", que permitiu desarticular tentativas de atentados em território americano.

"Como todos os que trabalhamos em centros de antiterrorismo e na CIA nestes anos depois do 11 de setembro (de 2001), todos acreditávamos no nosso trabalho", disse.

"Recebemos a instrução de assegurar que nosso país não fosse atacado novamente. E nos informaram que as técnicas no programa da CIA eram legais e que tinham sido autorizadas pela mais alta autoridade legal do país e pelo presidente", acrescentou.

- Um 'trabalho extraordinário' -

Por tudo isso, ela se disse convencida de que "fizemos um trabalho extraordinário. Para mim, a tragédia foi que a controvérsia sobre o programa de interrogatórios lançou dúvidas sobre o que foi uma enorme contribuição para proteger este país".

Agora, a CIA, ao contrário dos anos após os ataques de 11 de setembro, está sujeita a um manual militar, que proíbe especificamente métodos de tortura, como o submarino.

"Apoio as mais altas normas morais, nas quais este país decidiu se apoiar. Nunca, nunca voltaria a adotar o programa de interrogatórios da CIA", prometeu Haspel.

"Eu apoio a lei e não apoiaria uma mudança da lei", frisou.

Questionada se retomaria o programa e se permitiria a tortura, caso o presidente Donald Trump solicitasse, Haspel garantiu que recusaria.

"Não permitirei que a CIA realize atividades que considero imorais, mesmo que sejam tecnicamente legais. Não permitirei isso, absolutamente", acrescentou.

"Todo mundo vê os Estados Unidos como um exemplo para o mundo, e devemos respeitar isso. E a CIA está incluída", completou.

Trump lhe dá apoio irrestrito. "Minha indicada muito respeitada para ser diretora da CIA, Gina Haspel, foi criticada porque foi dura demais com os terroristas", tuitou Trump esta semana.

Mas o senador republicano John McCain pediu nesta quarta-feira aos seus colegas congressistas que rejeitem a nomeação de Haspel pelo papel que desempenhou no passado na tortura de prisioneiros.

"O papel da senhora Haspel no exterior sobre a tortura aplicada por americanos é alarmante. Sua rejeição em reconhecer a imoralidade da tortura é inabilitante. Acredito que o Senado deve exercer sua obrigação de assessoramento e rejeitar esta nomeação".

Entre os 13 membros da comissão do Senado (sete republicanos e seis democratas), vários demonstram ceticismo.

Quatro democratas (Kamala Harris, Dianne Feinstein, Ron Wyden e Martin Heinrich) solicitaram ao diretor de Inteligência Nacional, Dan Coats, que libere todos os documentos confidenciais relativos ao papel de Haspel nos programas de interrogatório da CIA.

Feinstein está preocupada com a possibilidade de "promover uma pessoa que esteve envolvida no programa de tortura à frente da CIA, a agência responsável por um dos capítulos mais sombrios da nossa história".

- Vida misteriosa -

O presidente da Comissão, o republicano Richard Burr, disse confiar que Haspel será confirmada no cargo, destacando que, se há um consenso, é sobre a sua capacidade para dirigir a CIA.

A vida de Haspel, aparentemente uma mulher sobretudo sorridente, está cercada de muito mistério por ter feito grande parte da carreira nos serviços secretos da CIA.

Sua curta biografia menciona que entrou para a agência de Inteligência em 1985, com a qual trabalhou na África, na Europa e na Ásia, assim como no centro antiterrorista da CIA, ao qual se integrou após os atentados de 11 de setembro de 2001, que deixaram mais de 3.000 mortos no país.

Onze anos depois, foi nomeada diretora-adjunta de operações secretas a nível mundial e depois diretora-adjunta da CIA em 2017. Agora, foi chamada para suceder Mike Pompeo, nomeado secretário de Estado.

Além do inglês, fala espanhol, francês, russo e turco, e é fã do cantor de country Johnny Cash.