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Guerra no Iêmen pode causar 1ª crise internacional para Trump

Governo iemenita pediu 'revisão' dos ataques dos EUA no país

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Um pedido de "revisão" nos ataques aéreos feitos pelos Estados Unidos no Iêmen pode causar a primeira crise internacional do governo do presidente Donald Trump.

    Nesta quarta-feira (8), o jornal "The New York Times" anunciou que o governo iemenita reconhecido internacionalmente havia pedido a suspensão dos ataques dos norte-americanos e o impedimento da permanência de generais do país em solo iemenita.

    Segundo a publicação, a medida tomada seria uma resposta do governo local contra os desastrosos ataques dos EUA no país que, se por um lado mataram vários membros do grupo terrorista Al Qaeda, por outro mataram dezenas de civis - incluindo muitas crianças - e até mesmo um soldado norte-americano.

    Haveria ainda uma rejeição da população local à ação militar, que não teria concordado com as frases do porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, que repetidamente afirmou que os bombardeamentos eram um "sucesso".

    No entanto, horas mais tarde, o ministro das Relações Exteriores, Abdul-Malik al-Mekhlafi, deu uma entrevista à agência de notícias "Associated Press" informando que não houve uma "suspensão" da parceria, apenas um pedido de "análise atenta" e "revisão" dos ataques realizados conjuntamente.

    "O Iêmen continua a cooperar com os EUA e continua a respeitar os acordos antiterrorismo", acrescentou al-Mekhlafi. O próprio Spicer, questionado por jornalistas em coletiva de imprensa, informou que a parceria "continuará".

    No entanto, analistas veem essa atitude como um desafio para Trump porque o combate ao terrorismo, apesar do desejo do presidente, não será resolvido com "ordens executivas". Para eles, o novo mandatário precisará perceber que é necessário uma "sensibilidade mais ampla" para lidar com as várias guerras civis espalhadas pelo mundo.

    O Iêmen é um dos países afetados pela polêmica ordem executiva que impede a entrada de cidadãos de sete nações, de maioria muçulmana, em território norte-americano por 90 dias.

    O aviso do Iêmen ao governo norte-americano deve ser levado como um primeiro forte alerta sobre as ações internacionais contra o terrorismo. Ele representa, mesmo que não seja uma decisão final, um passo atrás para a estratégia de Trump, que inclui ações mais agressivas contra os grupos de terrorismo islâmico, como o Estado Islâmico (EI, ex-Isis) e a Al Qaeda.

    Desde a campanha eleitoral, o magnata não parou de prometer que iria fazer uma luta determinada contra o EI e o terrorismo em geral. E, se o decreto sobre o banimento tornou-se um ponto crucial de batalha - já que a Justiça está analisando o caso -, fica ainda necessário esclarecer qual será a estratégia do Pentágono sobre esse tipo de enfrentamento.

    Como lembra a matéria do "NYT", será preciso esclarecer se o Pentágono recebeu mais autonomia de Trump em suas missões contra terroristas - pedido que foi rejeitado mais de uma vez por seu antecessor, Barack Obama. Essa poderá ser uma das chaves para entender como Trump atuará com seus aliados em "campos de batalha".

    - Entenda o conflito: O conflito atual no Iêmen teve início nos primeiros meses de 2015, com uma insurreição dos houthis, de orientação xiita, apoiada pelo Irã.

    Alegando serem vítimas de discriminação por parte do presidente Abd Rabbo Mansour Hadi, eles deflagraram uma revolta e tomaram parte do país, incluindo a capital Sanaa.

    Isso motivou a reação das monarquias sunitas da Península Árabe, que, lideradas pela Arábia Saudita e com apoio dos EUA, formaram uma coalizão para combater os houthis.

    Desde então, o Iêmen convive com bombardeios quase diários e uma divisão que parece longe de ter fim. Para piorar, o país abriga uma das células mais ativas da Al Qaeda e vê o aumento da influência do EI.

    Desde outubro do ano passado, os EUA ajudam nos ataques aéreos - tendo sido esse também o primeiro país a receber um bombardeamento dos caças norte-americanos no início do governo Donald Trump. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o conflito no Iêmen obrigou mais de três milhões de pessoas a abandonarem suas casas. Cerca de 14,5 milhões de iemenitas estão sem atendimento médico no país e 45% das estruturas sanitárias não estão mais em funcionamento por causa dos bombardeios.

    Após dois anos de guerra, segundo a OMS, 18,8 milhões de cidadãos estão precisando de ajuda e proteção humanitária, sendo que sete milhões têm dificuldades para encontrar comida e mais de oito milhões estão sem água limpa e para higiene pessoal.

    Quase 3,3 milhões de pessoas - incluindo 2,1 milhões de crianças - apresentam subnutrição. (ANSA)