Matéria publicada nesta quarta-feira (28) pelo The Wall Street Journal conta que Donald Trump reuniu um gabinete e um alto escalão com opiniões divergentes sobre questões como o déficit, o comércio, as mudanças climáticas e a Rússia, o que representa um desafio para a nova administração, que tenta moldar os temas abrangentes que o presidente eleito abordou durante a campanha em políticas específicas do governo. O republicano Mick Mulvaney, indicado como diretor de orçamento, opôs-se a aumentar o teto da dívida, mas Trump propôs cortes de impostos e grandes aumentos nos gastos com defesa e infraestrutura, o que, na opinião de muitos economistas, provocará um aumento no déficit.
De acordo com o Journal vários dos nomeados para o gabinete apoiaram um acordo comercial negociado pelo presidente Barack Obama com países asiáticos que Trump critica e promete abandonar. Rex Tillerson, nomeado para liderar o Departamento de Estado, disse acreditar que há provas científicas de que as mudanças climáticas estão sendo provocadas em parte pelo comportamento humano, algo que Trump no passado chamou de “farsa”. Ex-autoridades da Casa Branca dizem que novos governos muitas vezes têm de lidar com pontos de vista contrários. Em 2008, Obama escolheu dois de seus rivais no processo de seleção do candidato à presidência pelo Partido Democrata — Hillary Clinton, como Secretária de Estado, e Tom Vilsack, como Secretário de Agricultura —, apesar das diferenças exibidas durante a campanha. Obama já havia escolhido outro rival, Joe Biden, como seu vice.
Segundo a reportagem Trump será cercado por uma infinidade de vozes divergentes desde o início. Thomas Barrack, amigo de longa data de Trump e presidente do comitê inaugural, diz que o presidente eleito tem um estilo de gestão de “portas abertas”, no qual seus assessores debatem os méritos das propostas enquanto Trump é o “curador” das informações e toma as decisões finais. Muitas decisões tomadas pelo governo federal, porém, não chegam ao nível presidencial, fornecendo vastos poderes e independência a burocracias distantes dirigidas por secretários de gabinete e seus assessores. O monitoramento de uma agência potencialmente divergente pode ser um desafio para qualquer novo governo, e Trump talvez precise vigiar várias delas para garantir que promoverão políticas que se alinhem a suas promessas e não de acordo com as preferências de seus nomeados.
O diário norte-americano acrescenta que muito pode depender de como o presidente eleito conseguirá estabelecer uma cadeia de comando, particularmente dada a estrutura horizontal das nomeações do alto escalão feitas por ele até agora. Muitos dos novos assessores com as opiniões mais divergentes são aqueles com experiência governamental ou corporativa.
Wilbur Ross, indicado para o cargo de secretário de Comércio; Terry Branstad, governador de Iowa, que foi nomeado como embaixador na China; e o general aposentado James Mattis, nomeado como secretário de Defesa, pronunciaram-se a favor da Parceria Transpacífico, o acordo de comércio proposto por Obama com países asiáticos. Trump prometeu encerrar esse acordo comercial como parte de sua iniciativa de redesenhar as regras comerciais dos EUA.
Sua escolha para liderar a Agência de Proteção Ambiental, o procurador-geral de Oklahoma Scott Pruitt, chamou de “impraticável” uma política federal que força um aumento no uso de etanol e outros biocombustíveis na oferta de combustíveis dos EUA e apoiou uma ação de 2013 desafiando a medida.
Mas antes das primeiras votações das primárias republicanas, Trump disse em discursos em Iowa que apoiava a regra do etanol e que estava “100% com eles”. A equipe de transição de Trump e assessores seniores sugeriram que o ponto de vista do presidente eleito não mudou.
Membros seniores da equipe de transição de Trump disseram que o novo gabinete e os assessores da Casa Branca deixarão de lado suas diferenças e trabalharão para colocar a agenda de Trump em ação. O general Mattis e Tillerson não quiseram comentar. Mulvaney e Pruitt não responderam aos pedidos de comentários.