Pela primeira vez na história da Espanha, um governo foi recusado pelo Congresso dos Deputados, colocando o país em uma crise política sem precedentes. O feito coube ao candidato a primeiro-ministro Pedro Sánchez, do Partido Socialista Operário Espanhol (Psoe), que, em votação por maioria simples (que descarta as abstenções), não conseguiu obter a confiança do Parlamento.
Sánchez recebeu apenas 131 votos, sendo 90 do Psoe, 40 do partido com quem havia se aliado, o centro-direitista Ciudadanos (Cidadãos), e um de um deputado nacionalista das Ilhas Canárias. Outros 219 votaram contra, incluindo os membros do conservador Partido Popular (PP), do premier Mariano Rajoy, e do esquerdista Podemos, que, juntos, possuem 187 cadeiras.
Desde o fim da ditadura franquista (1939-1976), apenas dois candidatos a presidente do governo haviam sido bloqueados em primeiro turno, Leopoldo Calvo-Sotelo (1981) e José Luis Zapatero (2004). Após ter falhado na votação inicial, na última quarta-feira (2), quando era necessária maioria absoluta (176 votos), Sánchez não conseguiu fazer o Podemos se abster e entrou para a história espanhola com uma rejeição inédita no Congresso em segundo turno.
O país está sem governo desde as eleições de dezembro, quando Rajoy saiu vitorioso, mas sem apoio suficiente para continuar no poder só com o sustento do PP. Após semanas de negociações, o premier desistiu do encargo de formar um novo governo, e o rei Felipe VI convocou Sánchez para a tarefa.
Agora, o monarca deve decidir a quem confiar a próxima e arriscada tentativa. Tanto o PP quanto o Podemos, de lados opostos, informaram que a partir deste sábado (5) oferecerão diálogo ao Psoe. Rajoy, para construir e guiar uma "grande coalizão" com socialistas e Ciudadanos, e a legenda de Pablo Iglesias, para formar um governo de esquerda com o Psoe e o partido Izquierda Unida (IU), que teria 161 deputados, mas poderia ser aprovado com a abstenção de nacionalistas bascos e catalães. (ANSA)