ASSINE
search button

‘El País’: Vi centenas de McDonald’s, mas nos açougues faltava carne havia meses

Compartilhar

O jornal espanhol El País publicou nesta quarta-feira (12/11) uma matéria com as impressões da jornalista Leila Guerreiro, em sua recente viagem à Venezuela. “Estive em Caracas. Caminhei pelo centro — que muitos evitam, por temor — entre edifícios velhos tão bem preservados que pareciam novos, e me sentei em lindos cafés que, dois anos atrás, não existiam. Ao entardecer, desci até uma paisagem antes repleta de lojas, agora um intestino de cimento mergulhado em um silêncio amarelo, e recuei com medo. Vi casas anoréxicas coladas a um morro verde luxuoso. Vi casas belíssimas como cavalos de corrida. Saí para jantar às nove em uma área próspera —Altamira—, mas todos os restaurantes já estavam fechados “por segurança”. Vi supermercados com prateleiras vazias, ou repletas de um só produto: 100 detergentes da marca xis. Busquei nas farmácias um remédio simples, um descongestionante, e não consegui. Vi centenas de McDonald’s, mas nos açougues não havia carne de vaca há meses. Entendi que o tanque de gasolina sempre se enche por completo: o custo nunca supera uns centavos de dólar. Tomei banho não quando quis, mas quando pude, com água das cinco às oito. Entrei em lojas repletas de massa italiana, açafrão espanhol; paguei um vinho francês ao preço de uma Coca Cola. Vi gente dançando salsa nas ruas e centenas de espectadores entusiasmados no teatro Teresa Carreño. Para comprar pão fatiado fiz filas infinitas nos supermercados onde os operadores de caixa atendiam entorpecidos de ópio. Não consegui tabletes contra mosquitos, mesmo que haja uma epidemia de dengue. Vi dezenas de edifícios do plano de habitação do Governo — alguns belos — com a assinatura descomunal de Hugo Chávez estampada nas paredes. No aeroporto, havia passageiros fazendo check-in às dez em um vôo da Iberia que saía às quatro. Depois, leio notas sobre a  Venezuela que dizem estes são os bons, estes são os maus e é razoável sentir que não entendo nada”.