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Referendo traz perspectiva real de escalada militar na Ucrânia

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O resultado do referendo deste domingo na Crimeia não é difícil de prever. Com a força da máquina russa de propaganda nos meios de comunicação locais e o apoio evidente de muitos moradores da península a Moscou, a única dúvida real é por qual margem a integração do território à Federação Russa será aprovada.

A votação e seu resultado, porém, têm uma importância simbólica muito forte.

Este pode ser o momento que tornará finalmente visível, no horizonte, o que diplomatas sequer têm mencionado até agora: a possibilidade de uma escalada militar na Ucrânia envolvendo o Ocidente.

A cautela usada até então nas declarações diplomáticas pode estar ligada ao poderio militar de Moscou.

A Rússia é uma potência nuclear, com o maior território do mundo, vastos recursos humanos e minerais e um arsenal imenso.

O fracasso da via diplomática em frear o referendo ampliou a ênfase ocidental no caminho das sanções financeiras e comerciais para resolver o problema na Crimeia.

Mas sanções já fracassaram contra países com muito menos influência e força, econômica e política, que a Rússia.

Será que desta vez vão funcionar? E se funcionarem, quanto tempo vai demorar para convencerem Moscou a negociar? Até lá, será que a Rússia deixará de avançar com sua estratégia na Ucrânia?

Os dias seguintes ao referendo deverão trazer indicações de como os Estados Unidos e União Europeia poderão responder a questões como estas.

Se julgarem que as sanções podem não dar resultado e, eventualmente, permitir a Moscou mais tempo para implementar uma estratégia, restariam duas opções: ou se ressuscita o caminho diplomático ou as armas poderão vir a ser escolhidas para o duelo.

Diplomacia

O canto do cisne da diplomacia para resolver o dilema do referendo na Crimeia foi o longo e amigável encontro entre o secretário de Estado americano, John Kerry, e seu colega russo, Sergei Lavrov, na sexta-feira.

O tom das declarações dos dois chanceleres após as seis horas de conversa deixava claro que, embora amigos cordiais, não havia muito o que pudessem fazer dadas as posições praticamente irreconciliáveis dos dois lados da mesa.

"O encontro com o secretário Kerry foi proveitoso, apesar de EUA e Rússia não terem a uma visão comum sobre a Ucrânia", resumiu Lavrov, ressaltando que a Rússia vai "respeitar a vontade do povo da Crimeia".

O Ocidente, defende que o referendo na Crimeia é ilegal, e a intervenção da Rússia violaria acordos internacionais, inclusive o Memorando de Budapeste, assinado pelos russos em 1994, no qual prometem zelar pela integridade territorial da Ucrânia.

EUA e UE defendem a necessidade de a Rússia dialogar com o governo atual da Ucrânia, empossado com aprovação do parlamento ucraniano, e a retirada imediata de suas tropas da Crimeia, além da adoção de medidas para diminuir a tensão na região.

"Se a Rússia fizer algo que aumente as tensões ou ameace o povo ucraniano, então obviamente isso vai requerer uma resposta ainda maior e terá custos", disse John Kerry.

Para a Rússia, o governo em Kiev não é legítimo, logo não pode ser o interlocutor de um diálogo.

O governo empossado inclui representantes que naturalmente ameaçam, com sua plataforma nacionalista, os interesses russos no país.

Moscou insiste que houve um acordo político que estabelecia um governo de união na Ucrânia, mas que esse tratado foi jogado pela janela e que um governo sem representantes pró-Rússia foi empossado.

Nesse cenário, era de se esperar que a União Europeia, que viabilizou o acordo de 21 de fevereiro, seria mais idicada para implementá-lo novamente.

Mas a desconfiança de países da UE em relação a Moscou, principalmente daqueles que faziam parte da chamada Cortina de Ferro, tornou tal tarefa impossível.

Com a postura adotada pelos EUA no início dos confrontos, os americanos acabaram por prejudicar sua posição como um eventual mediador.

Desde o início do envolvimento russo na Crimeia, o presidente dos EUA, Barack Obama, disse que haveria "custos" para a Rússia se o país não mudasse sua postura.

Quem poderia, então, assumir o papel de mediador em uma renascida negociação diplomática pós-referendo?

Um possível candidato é a China, o único país a ter se abstido no Conselho de Segurança da ONU do sábado, durante a votação de uma resolução rejeitando o referendo.

Mas é difícil imaginar a China aprofundar o envolvimento na questão, com todo o seu retrospecto de não intervenção.

Na sexta-feira, o porta-voz do Ministério do Exterior chinês, Hun Lei, enfatizou a necessidade de diálogo, mas não indicou que o país está disposto a ajudar diretamente a encontrar uma saída para a crise.