O Fórum Social Mundial Palestina Livre, que acontece a partir do dia 28 de novembro, em Porto Alegre, tem gerado polêmica e pressões da comunidade israelita. Por meio de nota na qual comenta os recentes conflitos entre palestinos e israelenses, o Consulado-Geral de Israel se referiu ao evento como um "ataque" que incentiva a "resistência" e "terrorismo".
"O documento de referência já diz o que é esse Fórum. Não é uma tentativa de trazer um novo espírito de convivência que existe aqui no Brasil, onde todas as comunidades vivem em paz uma com a outra, com repeito mútuo, para exportar isso para o Oriente Médio. Essa era a ideia básica e por isso o governo do Estado e a prefeitura concordaram em dar apoio e participar em um papel construtivo pela paz. Mas o que está acontecendo, na prática, é que ao invés de exportar o modelo de convivência brasileiro, nós estamos importando o modelo de extremismo que existe no Oriente Médio para cá", disse o cônsul de Israel em São Paulo, Ilan Sztulman, que assinou a nota.
As pressões exercidas pela comunidade israelita já fizeram com que a prefeitura de Porto Alegre e a Assembleia Legislativa do Estado reduzissem sua participação no evento, que pretende discutir os mais de 60 anos de ocupação territorial naquela região. O documento de referência do evento se refere à situação na palestina como "limpeza étnica", e destaca que o encontro tem por objetivo fortalecer o movimento global em favor dos direitos do povo palestino, desenvolver mecanismos que permitam aos palestinos exercer seus direitos, promover o cumprimento das leis internacionais e criar estratégias e planejamento de campanhas de solidariedade ao povo da Palestina.
Apesar de se manter firme como principal apoiador do Fórum o governador do Rio Grande do Sul teve um encontro com o presidente da Confederação Israelita no Brasil, Claudio Lottenberg, no qual o chefe do Executivo gaúcho explicou que as posições manifestadas só serão apoiadas caso estejam "norteadas pela posição do governo Brasileiro sobre o conflito entre israelenses e palestinos no Oriente Médio".
Para o cônsul-geral israelense, o Fórum, nos moldes como está sendo planejado, pode prejudicar as boas relações do Brasil com Israel e Palestina, uma vez que se trata de um evento apoiado pelo poder público. Segundo ele, a elevação dos ânimos já pode ser sentida. "Na prática, é isso que está acontecendo, um extremismo total, uma deslegitimação de Israel, e isso não é exatamente diplomacia", afirma.
Sztulman diz que há algumas semanas promoveu um encontro em sua casa com representantes árabes e israelenses, incluindo o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassad (de origem libanesa), mas diz que um encontro igual foi vetado em Porto Alegre. "A comunidade se recusou porque, hoje, os espíritos já estão um pouco mais exaltados por causa de esse Fórum. E é esse tipo de espírito que esse Fórum vai trazer, não é um processo de falar, de ver qual é a posição de cada um, de ver o que podemos fazer juntos, é simplesmente de boicotar um lado, de uma forma categórica e extrema que não traz a paz", afirma.
O cônsul cita que um exemplo da unilateralidade do evento é o fato de a comunidade israelense não ter sido convidada. "Eu tenho notícias de que não foram convidados. Se fosse um fórum pela paz, eu iria. Não tenho problema nenhum, como representante oficial do Estado de Israel em discutir com palestinos, debater, e tentar construir alguma coisa".