Os presidentes do Mercosul debatiam nesta terça-feira, em Montevidéu, a questão da entrada da Venezuela no Bloco, emperrada pela negativa do Parlamento paraguaio.
A presidente Dilma Rousseff e seus colegas Cristina Kirchner (Argentina), Fernando Lugo (Paraguai) e José Mujica (Uruguai) se reuniram no início da tarde na sede do Mercosul, junto com seus pares Rafael Correa (Equador) e Hugo Chávez (Venezuela), que faz sua primeira viagem oficial ao exterior desde o início do tratamento de um câncer, em junho passado.
A reunião presidencial prossegue a portas fechadas, com o debate da complexa ‘fórmula jurídica’ proposta pelo Uruguai para que a Venezuela possa finalmente integrar o Bloco regional.
A incorporação da Venezuela foi firmada em 2006 em nível presidencial, mas o Parlamento paraguaio - dominado pela oposição ao governo de Fernando Lugo - não ratificou a decisão.
A Argentina apoia a solução uruguaia, que prevê um desvio jurídico sobre o tratado de criação do Mercosul (1991), que exige a aprovação dos Parlamentos dos Estados membros para o ingresso de um novo sócio, no caso a Venezuela.
Mas o presidente Lugo insiste no respeito às instituições e ao diálogo com o Congresso para superar as ‘dificuldades conjunturais’ atuais, revelou o chanceler paraguaio, Jorge Lara.
"Respeitamos as instituições paraguaias e as instituições do Tratado de Assunção, e neste sentido defendemos a negociação com o Congresso do Paraguai’, afirmou Lara .
O Bloco também debate a ampliação de sua tarifa externa máxima, de 35%, a cerca de 200 produtos de fora do Mercosul, para proteger a indústria regional dos possíveis efeitos da crise internacional.
A medida é defendida por Brasil e Argentina, mas não é vista com bons olhos por Uruguai e Paraguai.
Durante a cúpula, o Mercosul firmou um tratado de livre comércio com o Estado Palestino, o que constitui o primeiro acordo comercial entre os palestinos e países da América do Sul.
O acordo foi assinado pelos ministros de Relações Exteriores de Argentina, Héctor Timerman, Brasil, Antonio Patriota, Paraguai, Jorge Lara, Uruguai, Luis Almagro, e Palestina, Riyad Al Maliki.
O encontro desta terça-feira foi marcado por dois incidentes envolvendo a Argentina, o suicídio do subsecretário de Comércio, Ivan Heyn, em um hotel de Montevidéu, e a intervenção judicial na sede da operadora de TV a cabo Cablevisión, do grupo Clarín, que enfrenta a presidente Kirchner.
Iván Heyn, 33 anos, que participava da Cúpula do Mercosul, enforcou-se, aparentemente, em um hotel do centro da capital uruguaia, e a notícia abalou claramente Cristina Kirchner.
Uma fonte ligada ao caso disse à AFP, sob anonimato, que Heyn estava nu e morto há mais de seis horas quando foi encontrado, por volta das 15H00 horas.
"Ele se matou no hotel Radisson’, disse um funcionário do governo uruguaio, que preferiu não ter o nome revelado, acrescentando que a presidente argentina, Cristina Kirchner, chegou a ser atendida por uma equipe médica, na sede do Mercosul, depois de uma crise nervosa ao saber da notícia.
Heyn era economista e líder do grupo juventude peronista La Cámpora, do qual participa Máximo Kirchner, filho mais velho da presidente argentina.
Em Buenos Aires, a polícia ocupou a sede da Cablevisión, por determinação do juiz federal Walter Bento, da província de Mendoza, por denúncia de ‘exercício presumível de concorrência desleal’ e ‘posição dominante’.
O juiz designou um ‘interventor coadministrador’ depois de uma queixa apresentada pela empresa concorrente Vila-Manzano, titular do Supercanal, também de televisão a cabo, segundo Ricardo Mastronardi, advogado do funcionário designado interventor pela justiça, Enrique Anzoise.
A operação foi ‘considerada sem precedentes, inscrevendo-se numa campanha sistemática de perseguição que o Governo Nacional realiza contra as empresas do Grupo Clarín’, afirmou a Cablevisión em comunicado.
"Não podemos separar este episódio da escalada do gobierno nacional contra o grupo Clarín’, disse o gerente de Comunicações, Martín Echevers.
O fato acontece num momento em que o Senado se prepara para votar uma lei polêmica que declara de interesse público o papel de jornal, que tem como único fabricante a Papel Prensa, controlada pelo Clarín (49% das ações) e La Nación (22,49%), os dois maiores da Argentina, enquanto o Estado possui uma participação de 28,08%.