Os cubanos esperam que o presidente cubano Raúl Castro anuncie na sexta-feira uma reforma imigratória, que eliminará as complicadas permissões de saída e entrada do país, assim como a definição legal do "imigrante permanente", vigentes há 50 anos.
No dia 1° de agosto Raúl Castro adiantou que as discussões sobre "a reformulação e elaboração" da política migratória avançaram no sentido de acabar com restrições "desnecessárias".
Isto será "uma contribuição para aumentar os laços do país com a comunidade imigrante", disse Raul, referindo-se a uma população de dois milhões de cubanos e seus descendentes residentes em outros 40 países, 80% deles nos Estados Unidos.
É previsto a eliminação da permissão de saída (para os cubanos na ilha) e de entrada (para os imigrantes), cuja obtenção é complicada e cara. Além disso, acabará o estatuto jurídico de "imigrante permanente".
O tema da imigração sempre foi um dos mais conflituosos entre Havana e Washington desde a revolução cubana.
"Isto se deve ao fato de os EUA serem o maior antagonista político e maior receptor de imigrantes cubanos", disse à AFP Antonio Aja, especialista do Centro de Estudos Demográficos da Universidade de Havana.
"Mas, Cuba está despolitizando o tema, não acredito que estas medidas (preparadas por Raúl) serão utilizadas de forma política", acrescentou.
"Uma normatização do tipo facilitaria a regularização de imigrantes nos Estados Unidos", afirmam especialistas.
A eliminação da permissão de saída é uma demanda da população, da igreja católica, intelectuais e artistas.
A permissão, outorgada por 30 dias, é renovável 10 vezes e pode ser negada. Se a permanência ultrapassar o período permitido, a pessoa é declarada "desertor" e, junto com seus bens, perde a possibilidade de retorno.
A permanência no exterior poderá ser prolongada de 11 meses até dois anos, renováveis, sem perder os bens e com possibilidade de retorno, o que eliminaria o estatuto de imigrante definitivo.
Os emigrantes, mesmo os naturalizados em outros países, devem viajar para Cuba com um passaporte cubano e uma permissão expressa muita cara.
Raul Castro já autorizou a venda ou doação dos bens de quem emigra, o que eliminou os confiscos.
Ao antecipar a reforma, o presidente disse que irá preservar "o capital humano criado pela revolução", o que implica certas restrições para profissionais, especialmente médicos, que teriam de continuar a pedir permissão para cada viagem.
Os médicos cubanos foram atraídos pelos EUA nos anos 1960 como meio de prejudicar o governo castrista, apenas 3.000 permaneceram no país.
Em 2006, Washington decretou que qualquer médico cubano enviado para outro país, receberia permissão para ingressar nos Estados Unidos.
Espera-se que, no caso de profissionais, tais restrições os afetem apenas logo após sua formatura. Depois de certo período, estariam em pé de igualdade com o resto da população.
Com 11,2 milhões de pessoas, Cuba tem mais de um milhão de diplomados.
No final dos anos 70, Havana permitiu que imigrantes visitassem a ilha, com exceção daqueles envolvidos em atividades políticas e armadas contra a revolução. Em 1993 autorizou o envio de remessas para as famílias.
No entanto, a complexa questão da migração e laços de Cuba com a sua comunidade no exterior parece difícil de resolver com uma reforma, de acordo com especialistas.
"Está caminhando, vamos ver o quão longe chegará ...", afirmou Jesus Arboleya.