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Cidades europeias criam medidas para afastar os motoristas

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Enquanto algumas cidades norte-americanas sincronizam os sinais de trânsito para melhorar a fluidez e oferecem aplicativos de celulares que ajudam a encontrar vagas de estacionamento, muitas cidades europeias estão fazendo o oposto: criando um ambiente abertamente hostil aos motoristas. 

Os métodos variam, mas a missão é clara: tornar o uso do carro mais caro e simplesmente desagradável o suficiente para fazer com que a população use cada vez mais meios de transporte alternativos.

Viena, Munique e Copenhagen fecharam grande parte das faixas de trânsito para o tráfico de carros. Barcelona e Paris construíram, no lugar de estacionamentos de carros, lugares onde as pessoas possam estacionar suas bicicletas. 

Em Londres e Estocolmo, motoristas pagam altos pedágios apenas para entrar no centro da cidade e, há cerca de dois anos, dezenas de cidades alemãs implementaram um programa de “zonas ambientais”, onde apenas carros com baixa emissão de carbono podem entrar.

Novos shoppings e apartamentos são bem-vindos, mas raramente recebem permissão para oferecer grande número de vagas. O estacionamento nas ruas está praticamente extinto. Um novo shopping de Zurique, o Sihl City, é três vezes maior que o Brooklyn’s Atlantic Mall, em Nova York. Porém, tem apenas a metade do número de vagas. O resultado disso é que 70% dos clientes vão ao shopping usando o transporte público.

“Recentemente, mesmo capitais como Munique se tornaram o paraíso dos pedestres”, disse Lee Schipper, pesquisador da Universidade de Stanford, especializado em transportes sustentáveis.

“Nos Estados Unidos, a tendência é adaptar as cidades ao crescente fluxo de carros. Já aqui os esforços são para tornar as cidades melhores para as pessoas viverem e tirar  um pouco o espaço dos carros”, analisou Peder Jensen, chefe da Agência Europeia de Transporte Coletivo.   

Para isso, o Departamento de Planejamento de Tráfico de Zurique tem trabalho dia e noite, com o objetivo de "atormentar" os motoristas. Sinais de trânsito foram colocados muito próximos uns aos outros, causando atraso e angústia para quem está no trânsito. As passarelas subterrâneas, que antes permitiam uma maior fluidez ao trânsito, foram removidas. Além disso, os operadores dos bondes têm permissão para modificar os sinais de trânsito a seu favor quando se aproximam da cidade, interrompendo o fluxo dos carros.

Em volta da Lovenplatz, uma das maiores praças da cidade, os carros agora são banidos em muitos quarteirões. Quando permitidos, a velocidade máxima é comparada a de uma tartaruga, para que os pedestres possam atravessar livremente em qualquer lugar e a qualquer momento.

Ao observar alguns carros se espremerem entre uma imensa quantidade de bicicletas e pedestres, Andy Fellman, responsável por organizar o trânsito naquela área, sorri.

“Dirigir é uma experiência de andar e parar. É disso que gostamos. Nosso objetivo é reconquistar o espaço público para os pedestres, não facilitar para os motoristas.

Algumas cidades dos EUA, como San Francisco, fizeram esforços similares, expandindo ciclovias e criando “faixas para pedestres” nas principais ruas. Mas são poucas as exceções em um país onde as pessoas ainda sentem dificuldade em imaginar uma vida sem carros. Já as cidades européias têm mais incentivos. Como a maioria das ruas foi construída antes do advento dos carros, elas não suportam muito trânsito.

“Além disso, o transporte público é consideravelmente melhor na Europa, onde a gasolina também é mais cara, o que torna o custo de manter um carro ainda mais alto. Cada quilômetro é cerca de três vezes mais caro do que nos EUA”, diz Schipper. 

Outro aspecto é que os países da União Europeia não poderiam atingir a meta de reduzir as emissões de dióxido de carbono do Protocolo de Kyoto de outra forma que não fosse essa. Já os EUA, nunca se comprometeram com a iniciativa.

Globalmente, as emissões de dióxido de carbono estão aumentando, com metade da quantidade vinda de carros de passeio. Entretanto, existe uma importante motivação por trás desta iniciativa da Europa, que pode chamar a atenção de prefeitos de outras grandes cidades do mundo: os locais ficam mais convidativos, com o ar mais limpo e menos engarrafamento.

Depois de ser dono de um carro por 20 anos, Hans Von Matt, 52, vendeu seu veículo e agora se locomove em Zurique usando bondes e sua fiel bicicleta. Quando viaja, aluga um carro. Em Zurique, o número de famílias que não possuem carros aumentou de 40% para 45% na última década e os que possuem usam cada vez menos seus carros. Na Suíça, 91% dos membros do Parlamento vão de bonde para o trabalho. 

Os engenheiros que planejam as grandes cidades parecem concordar que o aumento do número de carros não é desejável em lugar nenhum. Fellmann calculou que uma pessoa usando um carro ocupa cerca de 115 metros cúbicos, enquanto um pedestre ocupa apenas três metros cúbicos.